A uma hora de Toronto, em meio a um spa e uma lanchonete de shawarma, encontra-se o modesto edifício de dois andares da Canadensys Aerospace, com janelas azuis refletindo o sol de verão. É aqui que o Canadá planeja sua primeira viagem à Lua.
A Canadensys está a desenvolver o primeiro rover canadense destinado a explorar o único satélite natural da Terra, marcando o primeiro projeto de exploração planetária liderado pelo Canadá. Modelos, mapas e pôsteres do espaço cobrem as paredes, enquanto engenheiros vestindo jalecos antiestáticos trabalham em máquinas pouco familiares.
Enviar este rover à Lua faz parte da “estratégia mais ampla de realmente mover a humanidade para fora da Terra”, disse à BBC o Dr. Christian Sallaberger, presidente e CEO da Canadensys. Aprender sobre a Lua, que pode tornar-se uma base para futuras explorações espaciais, é o “primeiro passo lógico”, acrescentou.
O rover canadense integra o programa Artemis da NASA, cujo objetivo é estabelecer uma presença humana sustentável na Lua. A missão visa identificar água e medir níveis de radiação na superfície lunar, preparando o terreno para futuras missões tripuladas e garantindo que o veículo sobreviva a múltiplas noites lunares — equivalentes a cerca de 14 dias terrestres.
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Comprar um espaço para minha empresa.Além disso, o rover demonstrará tecnologia canadense, reforçando o histórico do país na exploração espacial. O Canadá foi o terceiro país a lançar um satélite, projetou os braços robóticos Canadarm para o Ônibus Espacial e a Estação Espacial Internacional, e é conhecido por astronautas como Chris Hadfield e Jeremy Hansen, que orbitará a Lua na missão Artemis II no próximo ano.
Pesando 35 kg, o rover está previsto para lançamento como parte de uma iniciativa da NASA em 2029, pousando na região polar sul lunar, uma das mais inóspitas da Lua. O veículo ainda não tem nome; a Agência Espacial Canadense realizou um concurso online e anunciará o vencedor futuramente.
A Canadensys trabalha atualmente em diversos protótipos, que são rigorosamente testados para garantir resistência às condições extremas da Lua, com temperaturas variando de -200°C à noite até 100°C durante o dia. O design das rodas também é um desafio devido ao regolito lunar, uma camada pegajosa de rochas fragmentadas e poeira, que adere aos mecanismos.
A busca por água lunar é particularmente emocionante, já que se acreditava que a Lua fosse completamente seca até 2008, quando reanálises de amostras das missões Apollo revelaram partículas de água. A descoberta tem grande potencial para exploração sustentável, fornecendo água e hidrogénio para combustível de foguetes, transformando a Lua em uma espécie de posto de abastecimento para espaçonaves.
O Canadá sonhava com um veículo lunar há décadas, mas apenas em 2019 os planos concretos foram anunciados, e em 2022 a Canadensys recebeu um contrato de C$4,7 milhões. Fundada em 2013, a empresa já contribuiu com mais de 20 instrumentos para missões lunares e colabora com NASA e a Agência Espacial Canadense.
Apesar do histórico de acidentes em pousos lunares, Sallaberger destaca: “Se você projeta algo que pode sobreviver na superfície lunar a longo prazo, está praticamente à prova de balas em qualquer outro lugar do sistema solar.”