La corrida presidencial na Bolívia ganha contornos históricos com Samuel Doria Medina, um empresário milionário de 66 anos, a liderar as sondagens para as eleições de 17 de agosto. Após falhar em três tentativas anteriores (2005, 2009 e 2014), Doria Medina surge agora com reais hipóteses de vitória, prometendo prender Evo Morales e aproximar o país dos Estados Unidos.
Doria Medina, dono de cadeias de hotéis e da franquia Burger King na Bolívia, assume um discurso de rutura total com o Movimento ao Socialismo (MAS), no poder há quase duas décadas. Instalado no 20.º andar de um dos edifícios que ajudou a construir, o ex-magnata do cimento declarou: “Não vamos apenas mudar de presidente, vamos mudar o ciclo político.”
Desilusão popular e crise económica alimentam ascensão de Medina
O empresário está a capitalizar o descontentamento generalizado causado pela pior crise económica desde 1991, caracterizada por escassez de dólares, falta de combustíveis e crescente instabilidade social. Ele promete pôr fim às divisões internas do MAS, atualmente fragmentado entre o presidente Luis Arce e o antigo chefe de Estado, Evo Morales.
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Comprar um espaço para minha empresa.O modelo económico estatista de Morales, baseado na exportação de gás natural, entrou em colapso. O país, sem litoral e com cerca de 12 milhões de habitantes, enfrenta agora um momento decisivo.
A crise também abalou a base política do MAS. Com Morales impedido de concorrer e Arce fora da corrida, o único candidato da esquerda com algum peso nas sondagens é Andrónico Rodríguez, presidente do Senado e herdeiro político de Morales. Porém, Morales acusou-o de traição por avançar sem o seu apoio.
Propostas de choque económico e mudança geopolítica
Doria Medina propõe um ajuste fiscal drástico, inspirando-se no modelo do presidente argentino Javier Milei. Entre as primeiras medidas, pretende eliminar os subsídios aos combustíveis, os quais representaram uma perda de 3 mil milhões de dólares em 2024.
“É um absurdo que na Bolívia se pague 0,30 dólares por litro quando nos países vizinhos se paga 1 dólar”, afirmou.
Para além disso, Medina quer reestruturar empresas estatais e inverter o alinhamento internacional da Bolívia, rompendo com parcerias com a China, o Irão e a Rússia. Aposta num novo acordo comercial com os EUA e vê nas vastas reservas de lítio do país um trunfo estratégico para conquistar o apoio de Washington.
“Vamos cumprir a lei” — Medina promete prisão de Morales
Evo Morales está atualmente recluso no seu reduto tropical, sob risco de prisão devido a acusações ligadas a uma relação sexual com uma menor de idade. Medina foi claro: “Há um mandado de captura. Eu vou cumprir a lei.”
Sobre a possibilidade de Morales tentar fugir do país, como já fez em 2019 após a sua polémica reeleição, respondeu: “Não me surpreenderia.”
Questionado sobre as ameaças de Morales de ‘convulsionar o país’, Medina desvalorizou: “Ele já não tem força política. As pessoas querem puni-lo com o voto.”