Internacional/Ásia Pacífico: Na Birmânia, a junta perde o controlo de uma cidade estratégica após confrontos com grupos étnicos

Após dias de confrontos, a junta birmanesa perdeu o controlo de uma cidade estratégica perto da fronteira com a China. Uma derrota dura para o exército, que preocupa Pequim.

Confrontada com milícias cada vez mais agressivas, a junta militar está atolada na Birmânia. Na quinta-feira, 2 de novembro, os militares no poder confirmaram a perda de uma cidade estratégica na fronteira com a China para os grupos étnicos armados. « O governo, as organizações administrativas e as forças de segurança já não estão presentes » em Chinshwehaw, uma cidade do Estado de Shan, declarou o porta-voz do governo, Zaw Min Tun.

Nos últimos dias, o exército no poder tem estado envolvido em violentos combates nesta região remota do norte do país. A ele opõe-se uma aliança de três grupos étnicos armados: o Exército de Libertação Nacional Ta’ang (TNLA), o Exército Arakan (AA) e o Exército da Aliança Democrática de Myanmar (MNDAA). Uma coligação capaz de mobilizar pelo menos 15.000 homens, segundo os analistas.

Conflitos de alta intensidade

Há várias décadas que estes grupos lutam contra o governo central pelos recursos naturais e pela autonomia política do Estado de Shan, que faz fronteira com a província chinesa de Yunnan. Este território estratégico alberga gasodutos e oleodutos que abastecem o país vizinho. Na quinta-feira, a aliança reivindicou o controlo de Chinshwehaw, bem como de vários outros locais no norte do Estado.

No início da semana, estes opositores ao exército já tinham anunciado a tomada de várias posições militares, bem como de rotas comerciais estratégicas com a China, o principal parceiro comercial da Birmânia. O Tatmadaw, o exército nacional birmanês, por seu lado, acusou os grupos armados de « explodir fontes de eletricidade e pontes, e de destruir vias de transporte », numa mensagem áudio gravada na quarta-feira, 1 de novembro.

Segundo dados das Nações Unidas publicados na segunda-feira, tratou-se de confrontos de alta intensidade que provocaram a deslocação de mais de 6.000 pessoas. Os três grupos armados, por seu lado, falaram de dezenas de feridos, mortos e capturados nas fileiras da junta. Estes números devem ser tratados com prudência numa região dominada pela selva, onde as comunicações são de difícil acesso.

Como parceiro estratégico, Pequim está a tentar acalmar os ânimos


Do outro lado da fronteira, Pequim « apela a todas as partes para cessarem imediatamente o fogo e os combates », declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, numa conferência de imprensa, acrescentando que esperava uma resolução « por meios pacíficos ».

É preciso dizer que, do lado chinês, os confrontos – sobretudo nesta região – são vistos com desconfiança. Segundo um jornal estatal, mais de um quarto do comércio entre a Birmânia e o país vizinho passa pela pequena cidade de Chinshwehaw, atualmente nas mãos de grupos armados. O Estado de Shan é também o local de um projeto ferroviário de alta velocidade, integrado nas Novas Rotas da Seda promovidas por Pequim.

Para além das trocas comerciais, a China é também um dos últimos países a manter relações estreitas com a junta birmanesa, isolada na cena internacional e à qual fornece armas. Estas parcerias levaram o ministro chinês da Segurança Pública a deslocar-se a Naypyidaw, na terça-feira, 31 de outubro, para se encontrar com o chefe do exército birmanês, Min Aung Hlaing. No local, os dois homens denunciaram os ataques perpetrados pelos opositores armados, qualificando-os de « tentativas de minar a paz e a estabilidade na região », noticiou o jornal estatal Global New Light of Myanmar.

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