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Internacional/Ásia: Tailândia e Camboja decretam cessar-fogo incondicional após cinco dias de confronto sangrento na fronteira

Acordo mediado pela Malásia e com envolvimento dos EUA e da China põe fim ao mais letal conflito fronteiriço em mais de uma década, que já provocou pelo menos 36 mortos e mais de 270 mil deslocados.

Os líderes da Tailândia e do Camboja chegaram a um acordo de cessar-fogo “imediato e incondicional”, com início à meia-noite desta segunda-feira, no que representa um marco importante para a estabilização da região após cinco dias de confrontos intensos na fronteira.

O Primeiro-Ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, e o Primeiro-Ministro cambojano, Hun Manet, decidiram pôr fim às hostilidades que desde 24 de julho causaram pelo menos 36 mortes e o deslocamento de mais de 270 mil pessoas ao longo da fronteira de 817 km entre os dois países.

O anúncio foi feito pelo Primeiro-Ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, anfitrião das negociações realizadas em Putrajaya.
“Este é um passo essencial para a desescalada e o restabelecimento da paz e segurança na região”, declarou Anwar. Segundo o líder malaio, os comandantes militares de ambos os países irão reunir-se na terça-feira para coordenar a aplicação do acordo.

 Conflito antigo reacendido

Os confrontos tiveram origem numa antiga disputa sobre mapas da era colonial e a soberania do templo Khmer Prasat Ta Moan Thom, situado perto da fronteira em território tailandês. As tensões aumentaram desde maio, após a morte de um soldado cambojano e novos episódios de intimidação, incluindo a proibição de turistas cambojanos entoarem o hino nacional junto ao templo.

A escalada culminou com bombardeamentos de artilharia pesada iniciados no dia 24 de julho, levando à evacuação de mais de 138 mil tailandeses e 20 mil cambojanos das zonas afetadas, segundo fontes oficiais.

Declarações dos líderes

Após as negociações, Hun Manet afirmou que a reunião produziu “resultados muito positivos” e expressou esperança no restabelecimento da normalidade nas relações bilaterais.
“Acreditamos que as soluções anunciadas pelo Primeiro-Ministro Anwar serão a base para a desmobilização das forças e o retorno à estabilidade”, acrescentou.

O líder tailandês, Phumtham, que antes das conversações havia expressado dúvidas quanto à sinceridade cambojana, declarou que “o cessar-fogo será implementado de boa-fé por ambas as partes”.

Mecanismo de verificação em preparação

Num comunicado conjunto, Tailândia, Camboja e Malásia anunciaram que os ministros da Defesa foram incumbidos de elaborar um mecanismo de implementação, verificação e relato do cessar-fogo. Foi igualmente marcada uma reunião do Comité Geral de Fronteira para o dia 4 de agosto no Camboja.

Apesar do anúncio, relatos de confrontos pontuais ainda surgiam na fronteira durante o final da segunda-feira, conforme indicou o correspondente da Al Jazeera, Tony Cheng, a partir da província tailandesa de Surin.
“Há milhares de pessoas deslocadas que só querem regressar a casa o mais rápido possível”, relatou Cheng.

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Intervenção internacional

As negociações contaram com a presença de representantes dos Estados Unidos e da China. Hun Manet destacou que a reunião foi “coorganizada pelos EUA e com a participação ativa da China”, reforçando o papel das potências na contenção da crise.

O Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, elogiou o cessar-fogo e instou todas as partes a cumprirem os compromissos.
Donald Trump, ex-presidente dos EUA, também se envolveu diretamente, alertando os dois países de que os Estados Unidos não firmariam acordos comerciais enquanto o conflito persistisse.

“Não haverá tratado comercial enquanto não cessarem a guerra”, declarou Trump no domingo. Segundo ele, ambos os líderes demonstraram disposição para negociar após contactos diretos com Washington.

Caso o conflito persistisse, Tailândia e Camboja enfrentariam tarifas de 36% sobre exportações para os EUA a partir de 1 de agosto. Após o acordo, ambos os líderes agradeceram publicamente a Anwar, Trump e à China pela mediação.