Três dias após o ataque, a Ucrânia continua a assimilar as implicações da “Operação Teia de Aranha”, a ofensiva massiva de domingo contra a aviação estratégica russa.
Na quarta-feira, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), responsável pela operação, divulgou novas imagens impressionantes do ataque em andamento, acompanhadas de raros vislumbres sobre a logística e a execução desta complexa ofensiva.
Imagens de satélite que surgiram desde domingo mostram os contornos carbonizados de aviões nas pistas das bases aéreas de Olenya, Ivanovo, Diagilevo e Belaya, reforçando a narrativa de um êxito sem precedentes.
Para analistas ucranianos, trata-se de uma operação que levou um ano e meio a ser preparada e que continua a impressionar.
“Esta pode ser considerada uma das operações mais brilhantes da nossa história”, afirmou Roman Pohorlyi, fundador do grupo de análise militar DeepState.
“Mostrámos que somos fortes, criativos e que conseguimos destruir os nossos inimigos, por mais distantes que estejam.”
SBU divulga imagens de drones em ação
Desde domingo, praticamente todas as informações divulgadas têm origem direta no SBU, que procura maximizar o impacto da sua operação, beneficiando do silêncio quase absoluto por parte do Kremlin.
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Comprar um espaço para minha empresa.Na quarta-feira, o presidente Volodymyr Zelensky condecorou os agentes envolvidos e reiterou que 41 aeronaves foram danificadas ou destruídas, das quais metade são irrecuperáveis e outras poderão levar anos a serem reparadas, se tal for possível.
Zelensky sublinhou ainda que a operação não teria ocorrido se houvesse um cessar-fogo em vigor.
Vídeo mostra bombardeiros e aviões AWACS sob fogo
Um vídeo com quatro minutos, recentemente divulgado, mostra detalhes inéditos. Filmado da perspetiva de alguns dos 117 drones utilizados, revela bombardeiros estratégicos, aviões de transporte e sistemas de alerta aéreo AWACS a serem perseguidos e atingidos.
Chamas intensas consumem várias aeronaves, e é possível observar que algumas transportavam já mísseis de cruzeiro prontos para uso.
Os drones, muitos dos quais pilotados remotamente a partir da Ucrânia, foram direcionados com precisão para pontos vulneráveis como os tanques de combustível nas asas, que aparentavam estar cheios e prontos para descolagem.
Um dos momentos mais significativos mostra drones a atingirem dois aviões Beriev A-50, modelos soviéticos dotados de radar com alcance superior a 600 km.
Estes aparelhos, considerados cruciais para a superioridade aérea russa, foram visados na base de Ivanovo Severny, a nordeste de Moscovo.
Embora a transmissão de vídeo termine no momento do impacto, imagens de satélite mostram os destroços de vários bombardeiros, mas não confirmam totalmente o estado dos A-50. Ainda assim, acredita-se que a frota russa poderá ter sido reduzida para apenas quatro unidades operacionais.
“Reiniciar a produção do A-50 é altamente improvável devido às sanções e destruição das fábricas,” explicou o analista militar Serhii Kuzan.
“Cada perda deste modelo representa um problema estratégico irreparável para a Rússia.”
Contêineres móveis e drones camuflados
Outro aspeto revelado pelo SBU é o uso de contentores camuflados como casas de madeira móveis, montados sobre camiões, usados para transportar drones armados até pontos próximos das bases russas.
Vídeos mostram essas estruturas com janelas e tetos retráteis, que permitiram a descolagem de dezenas de drones.
Num dos vídeos, um polícia russo entra num dos contentores logo após o ataque, que explode segundos depois, sugerindo a possibilidade de armadilhamento.
Impacto estratégico e resposta russa
O impacto da operação está a ser analisado por especialistas como um ponto de viragem na guerra.
“Foi um golpe significativo na imagem e capacidade da Federação Russa,” declarou o especialista em aviação Anatolii Khrapchynskyi.
Pouco mais de três meses após Donald Trump afirmar que Zelensky não tinha trunfos, a Ucrânia respondeu de forma clara.
“A Ucrânia mostrou ao mundo que a Rússia é frágil e incapaz de se defender internamente,” acrescentou Khrapchynskyi.
No entanto, o Kremlin não parece disposto a recuar.
Segundo Trump, que falou recentemente com Vladimir Putin, o líder russo teria prometido represálias severas.
“Foi uma boa conversa,” escreveu Trump na Truth Social, “mas não uma que conduza à paz imediata.”