Helena Taipo, 60 anos, respondia na qualidade de arguida, a perguntas da juíza Ivandra Uamusse, do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, que julga o referido caso.
Confrontada pela magistrada com nomes de empresas de promoção de eventos e construção civil acusadas pelo Ministério Público de terem sido usadas para o desvio de verbas da DTM, entre 2010 e 2014, a antiga governante respondeu: « Não conheço ».
Negou igualmente que uma empresa de construção civil implicada no caso tenha edificado uma dependência onde vivia a sua filha num bairro na cidade de Nampula, norte de Moçambique, justificando que não tem nenhum imóvel no referido local.
« Eu não tenho dependência [na cidade de Nampula], eu ouvi que houve arresto [do meu imóvel], mas nunca tive dependência lá, nunca fui notificada, ouvi pela primeira vez aqui no tribunal », enfatizou.
Helena Taipo admitiu que a filha viveu numa dependência na referida cidade, mas não é proprietária do imóvel, não tendo explicado as circunstâncias em que a mesma residiu na aludida casa.
« A minha filha é maior de idade » e « se há alguém que está interessada em saber o que aconteceu, sou eu », afirmou.
A antiga ministra do Trabalho admitiu ter instruído a DTM para a transferência de dinheiro para a Direção Provincial do Trabalho de Nampula pagar obras num centro de formação técnico-profissional do Estado no distrito de Malema, de onde Helena Taipo é natural, naquela província.
Taipo afirmou igualmente que deu ordens à DTM para a aquisição de 50 bicicletas para mineiros moçambicanos que trabalham na África do Sul visando « resolver o problema de mobilidade » deste grupo na província de Nampula.
Disse ainda ter autorizado a compra de motorizadas, em número não especificado, para motoristas e agentes de serviços do Ministério do Trabalho, mas afirmou que a implementação da decisão foi feita pelo respetivo pelouro.
Disse não se lembrar de ter ordenado a aquisição de equipamento de som para a instituição.
Helena Taipo também afirmou ter ordenado a aquisição de cabazes alimentares para distribuir como brindes por vários parceiros, justificando o ato com uma tradição que « herdou » quando assumiu a função, em 2005.
No início do interrogatório de hoje, a antiga ministra do Trabalho de Moçambique demarcou-se da atuação da DTM, de onde terão sido fraudulentamente desviados 1,6 milhões de euros de mineiros moçambicanos: « As minhas competências, nestes processos, visavam a viabilização e a aprovação » de processo, mas « a sua operacionalização cabia, na sua totalidade, ao próprio DTM ».
A ex-ministra do Trabalho e outros 11 suspeitos são acusados de ter desviado 1,6 milhões de euros das contas da DTM, uma das entidades na altura tuteladas por Taipo.
Uma parcela do montante correspondia a taxas que as companhias mineiras sul-africanas pagam ao Estado moçambicano pela contratação de mão-de-obra.
A ministra é ainda acusada noutro caso de ter recebido cerca de 100 milhões de meticais (1,4 milhões de euros) de subornos em 2014.
Os alegados subornos corresponderiam a contrapartidas pelo favorecimento de empresas de construção civil e do setor gráfico em contratos com o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), entidade que a então ministra também tutelava.