Mais de 47 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, na sequência da recente vaga de ataques armados. A estimativa é avançada pelo Instituto de Psicologia Paz de Moçambique, uma organização não-governamental que acompanha a situação no terreno.
Segundo um relatório da instituição, consultado esta sexta-feira pela Lusa, a maioria dos deslocados encontra-se no distrito de Chiúre, que acolhe 42.411 pessoas provenientes de 10.075 famílias. Os distritos de Muidumbe e Ancuabe também acolhem populações deslocadas, com 2.310 e 1.946 pessoas, respetivamente.
O relatório surge na sequência de mais um episódio de violência em Chiúre Velho, a 24 de julho, onde um grupo armado associado ao Estado Islâmico reivindicou o ataque à aldeia e ao posto policial local, com recurso a armas automáticas e roubo de material.
A organização aponta ainda para o risco de aumento do número de deslocados, na sequência de novos ataques registados a 28 de julho nas aldeias de Namahapa e Melija, localizadas no posto administrativo de Ocua.
Nos últimos dias, têm sido reportados vários incidentes nas zonas de Ancuabe e Ocua, incluindo ataques, mortes, sequestros e fugas em massa das populações.
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Comprar um espaço para minha empresa.O documento do Instituto de Psicologia Paz de Moçambique destaca que 262 famílias receberam kits de assistência no Centro de Transição de Micone, em Chiúre, onde foram realizadas ações de rastreio nutricional, com especial atenção a menores de idade.
No centro de Namicir, a atuação conjunta de entidades como o Programa Alimentar Mundial (PAM), a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o UNICEF beneficiou 800 famílias, refere o mesmo relatório.
A ONG sublinha a necessidade urgente de mobilização de recursos para continuar a prestar apoio às comunidades afetadas, reiterando que “cada contribuição conta para salvar vidas e restaurar a esperança”.
A província de Cabo Delgado, rica em gás natural, é palco de uma rebelião armada desde 2017. A violência já provocou milhares de mortos e mais de um milhão de deslocados, dando origem a uma grave crise humanitária.
De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa dos EUA, pelo menos 349 pessoas morreram em 2024 na sequência de ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, o que representa um aumento de 36% face ao ano anterior.
O relatório do ACSS refere que este “agravamento dos níveis de violência” se deve à estratégia do grupo ASWJ, afiliado ao Estado Islâmico, que pretende expandir o conflito para o interior e zonas rurais da província.