Moçambique: Viúva de Mariano Nhongo acusa autoridades de raptarem filhos

Amélia Marcelino, também ex-guerrilheira da Renamo, afirma que dois meses depois da morte de Mariano Nhongo, as autoridades moçambicanas já não têm motivações para manter em cativeiro os filhos do fundador da autoproclamada Junta Militar da Renamo.

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“Quero que o governo me devolva as crianças. O pai já morreu, era militar e morreu pelas suas obras, então as crianças foram raptadas por causa das obras do seu pai, e esse já morreu, então deviam devolver as crianças”, disse, em declarações à Lusa, Amélia Marcelino.

A viúva sobreviveu à suposta emboscada em que morreu o marido e agora entende que o primogénito de Mariano Nhongo, que está entre os supostamente raptados, deveria estar a desempenhar um papel crucial na família, na ausência do pai.

“Eu peço ao governo se já os matou para me dar informação, de forma que eu entre em luto de uma única vez. Mas não tenho informação, estou a chorar a perda do meu marido e não sei se devo chorar a perda dos meus filhos”, acrescentou, adiantando que a família sobrevive agora com biscates de lavra em campos de cultivo.

Um outro filho de Nhongo, Carlitos Mariano, que escapou no dia do rapto dos seus irmãos, observa que os seus parentes foram raptados para forçar a rendição do pai, defendendo que “não faz sentido” que após a morte deste, os irmãos continuem “nas mãos do governo”.

“Eles foram raptados por elementos das Forças de Defesa e Segurança, foram raptados, outros em Chimoio, outros no Inchope. Também nessa altura vieram aqui queimar as nossas casas, levaram muitas coisas. Eu tinha uma moagem que foi queimada, a minha mota foi levada, e que era o nosso sustento”, disse.

Entretanto, Daniel Macuácua, porta-voz do comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Sofala, disse que a corporação não tem o registo em nenhuma subunidade da Polícia de qualquer caso de rapto dos filhos do líder dissidente da Renamo.

“Não tenho conhecimento de crianças de Mariano Nhongo que foram raptadas. Não tenho conhecimento de um rapto que tenha ocorrido e sido participado em qualquer subunidade policial”, disse Daniel Macuacua, sugerindo não haver nenhum processo em curso sobre o caso.

A autoproclamada Junta Militar da Renamo, um grupo dissidente da principal força política de oposição responsável por ataques armados no centro de Moçambique, perdeu o seu líder, Mariano Nhongo, em 11 de outubro, após 28 meses de contestação à liderança do principal partido de oposição e exigindo a renegociação do acordo de paz assinado em agosto de 2019.

Mariano Nhongo foi abatido numa mata do distrito de Cheringoma, província de Sofala, centro do país, durante uma troca de tiros com uma patrulha policial, após meses de ofensivas das forças governamentais visando travar os ataques armados do seu grupo, responsável pela morte de mais de 30 pessoas em estradas e povoações das províncias de Manica e Sofala desde agosto de 2019, segundo as autoridades.

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