Morreu Gilles Perrault, defensor da abolição da pena de morte em França

O seu livro de 1978 ‘Le pullover rouge’, resultado de uma investigação que punha em dúvida a culpabilidade de Christian Ranucci, um homem guilhotinado dois anos antes em França pelo homicídio de uma criança, intensificou o debate sobre a pena de morte no país, e levou também à condenação do escritor por difamação das forças policiais de Marselha, onde o crime ocorrera.

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A pena de morte foi abolida em França em 1981, mas os pedidos de revisão da sentença de Ranucci, causa que Perrault assumiu, nunca tiveram êxito.

“Uma reabertura do processo, não é um ‘sprint’, é uma maratona”, disse o escritor à France Presse em 2006, esperando que um dia o caso fosse reexaminado.

Nascido Jacques Peyroles, em março de 1931, Gilles Perrault formou-se no Instituto de Estudos Políticos de Paris, iniciando uma carreira de advogado, na década de 1950, que poucos anos depois trocou pelo jornalismo de investigação e a literatura.

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Sob o pseudónimo de Gilles Perrault, assinou em 1969 um romance de espionagem de sucesso, ‘Dossier 51’ (“Processo 51”, na edição portuguesa), mais tarde adaptado ao cinema por Michel Deville.

Perrault é também o autor de ‘Nosso amigo o rei’, publicado em 1990, que fazia um balanço de 30 anos do reinado de Hassan II, questionando a ligação das elites francesas ao soberano, o que deu origem a “uma das mais graves crises da história das relações franco-marroquinas”, como hoje escreve o jornal Le Figaro, na sua edição ‘online’.

“Os livros de Gilles Perrault são uma referência para a minha geração”, disse o jornalista e presidente da organização Repórteres sem Fronteiras, Pierre Haski, à AFP, numa reação à morte do escritor. “Há um antes e um depois de ‘Nosso amigo o rei’ no olhar sobre Marrocos de Hassan II”, acrescentou.

Em 2014, Perrault prefaciou ‘Mohamed VI por trás das máscaras’, obra crítica do atual rei de Marrocos, filho de Hassan II, da autoria de Omar Brouksy, antigo jornalista marroquino da AFP. O livro tinha por subtítulo ‘O filho do nosso amigo’, numa referência a ‘Nosso amigo o rei’.

Ao longo da sua carreira de escritor e jornalista, com mais de duas dezenas de livros publicados, o nome de Gilles Perrault aparece associado a causas sociais, em manifestações contra o racismo e pela legalização da eutanásia.

O jornalista de investigação Edwy Plenel definiu Perrault como “formidável narrador” e “um homem comprometido”, numa mensagem de reação à morte do escritor, citada pela AFP.

A obra de estreia de Gilles Perrault, ‘Les Parachutistes’, de 1961, com base nos anos que antecederam a independência argelina, foi também o seu primeiro livro publicado em Portugal, pela antiga Agência Portuguesa de Revistas, sob o título ‘Três ases’ (1963).

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Seguir-se-iam, nas décadas de 1970-1980, ‘O processo 51’ (1970) e ‘O grande dia’ (1975), com a chancela Bertrand, ‘A derrapagem’ (1987), pelos Livros do Brasil, e ‘Serviços Secretos Soviéticos contra Hitler’ (Modos de Ler, 2008), tradução portuguesa de ‘L’orchestre rouge’, sobre a rede de resistência anti-nazi e de espionagem que operou na Alemanha durante a II Guerra Mundial.

Em 1998, Gilles Perrault coordenou a edição d’O Livro Negro do Capitalismo’, obra coletiva de investigadores universitários que punha em dúvida os princípios da desregulamentação de mercados e de setores de atividade, que se intensificou durante essa época, com a consolidação do neoliberalismo dominante.

‘O Livro Negro do Capitalismo’ foi editado em português pela brasileira Record, no ano 2000.

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