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“Se não fosse eu”- Repolho

Se não fosse eu é assim como foi conhecido o repolho nos anos 80. Um repolho que foi mais do que um alimento, salvou vidas, quando mais necessitaram foi a única solução à vista. Marcou uma geração, ficou registado na memória.

Mas será que as pessoas lembram ou já se esqueceram?

Sabe qual é o significado da expressão se não fosse eu?

O significado da expressão se não fosse eu surgiu em 1983 nesse ano havia muita fome, disse o historiador Ivan Zacarias.

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O repolho, hoje hortaliça que abunda em todos os mercados, já foi em tempos a única refeição em Maputo.

“O repolho era alimento de todas refeições, principalmente em Maputo cidade e província. Todos os dias as pessoas tinham que caminhar de manha em direcção para Chokwé para carregar repolho para Maputo, pois havia muita fome, frisa o historiador. Todo cidadão quando fosse ao mercado só avistava repolho e peixe que não tinha cabeça”.

Historiador Ivan apontou a guerra civil designada “a guerra dos 16 anos” iniciada em 1977 como um dos principais factores que fomentou a crise alimentar de 1983.

Para além deste facto “ temos a saída de mão-de-obra qualificada portuguesa isso veio a afectar a economia e a produção alimentar”. 

O tipo de abordagem que o Estado teve em relação a produção agrícola, aparentemente não foi o mais acertado, por isso é que não produziu, tal como pensava-se.

Com a guerra houve destruição de muitas infra-estruturas, as pessoas não podiam produzir onde queriam nem havia estabilidade económica. A crise ecológica caracterizada por fomes e secas no início da década 80 e a guerra que intensificou-se nesse período.

“Longas noites e filas de espera, prateleiras vazias, quantidades de comida insuficientes caracterizaram o período de se não fosse eu”.

Amândio Macuácua conta na primeira pessoa como foi viver nesta época “não havia milho, não havia arroz nas lojas e quando houvesse arroz era feitas filas enormes e nem chegava para todos. Foi um período difícil em que para algumas pessoas obter pão tinham que dormir numa fila na porta da padaria para no dia seguinte poder comprar pão”.

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“Houve um episódio de uma senhora que chegou a padaria e comprou duas argolas tinha três ou quatro filhos e perguntou, a quem daria aquele pão por ser pouco.

Então sempre que ela ia comprar pães passou a sentar no mercado comer acabar, pelo que acabou perdendo um filho e o outro filho ficou com a barriga grande, pois ficava na lixeira do mercado apanhando a parte terminal da cana-de-açúcar, que é usada para semear, para chupar para saciar a fome”.

O repolho que alimentava a capital moçambicana era colhido maioritariamente na província de Gaza, acompanhado pela xima amarela e peixe carapau, satisfez por muitos e consecutivos dias a fome de vários moçambicanos, se não fosse pelo repolho muitos não teriam sobrevivido à crise.

Se não fosse eu, a era do repolho.

Por: Luísa Nhantumbo