Centenas de famílias beduínas estão a ser evacuadas da cidade síria de Suwayda, onde um cessar-fogo precário mantém, por enquanto, o silêncio após uma semana de intensos combates entre milícias drusas e beduínas. A operação, coordenada pelas autoridades sírias com o apoio do Crescente Vermelho Árabe Sírio, visa retirar 1.500 pessoas da zona de conflito.
Pelo menos 500 pessoas partiram na manhã de segunda-feira em 10 autocarros, segundo informou o correspondente da Al Jazeera, Mohamed Vall, desde Damasco. Os deslocados foram levados para a província vizinha de Daraa, numa tentativa de aliviar a pressão sobre a cidade, parcialmente destruída pela violência que eclodiu a 13 de julho.
Uma crise com raízes comunitárias
Os confrontos entre as minorias drusa e os clãs beduínos deixaram quase 260 mortos e provocaram a deslocação de mais de 128 mil pessoas, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas. O conflito ameaçou desestabilizar ainda mais a frágil transição pós-guerra da Síria.
Israel interveio militarmente, realizando ataques aéreos contra edifícios do Ministério da Defesa em Damasco e contra forças do governo sírio em Suwayda. As autoridades israelitas justificaram a ação afirmando que pretendiam proteger a comunidade drusa, que consideram “irmã”.
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Comprar um espaço para minha empresa.A trégua e as suas condições
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, o cessar-fogo, negociado no sábado, implica que os combatentes beduínos libertem as mulheres drusas mantidas em cativeiro e abandonem a província. No entanto, a troca de prisioneiros fracassou na noite de domingo e foram relatados novos ataques aéreos que, alegadamente, seriam israelitas — algo que o exército israelita negou ter ocorrido.
Entretanto, um comboio humanitário do Crescente Vermelho Árabe Sírio entrou em Suwayda no domingo, levando alimentos, água, medicamentos e combustível, informou o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
População em fuga e medo persistente
O jornalista Mohamed Vall acrescentou que muitas famílias beduínas estão a abandonar Suwayda voluntariamente. “Há sete distritos da cidade onde vivem comunidades árabes beduínas, que se sentem sob ameaça. Algumas dessas famílias preferem sair por iniciativa própria”, afirmou.
O Ministro do Interior sírio, Ahmad al-Dalati, declarou à agência estatal SANA que o objetivo da evacuação é “permitir o regresso das famílias drusas deslocadas”, reforçando o apelo à reconciliação. “Impusémos um cordão de segurança à volta de Suwayda para manter a ordem e travar os combates, o que é essencial para alcançar a estabilidade na província”, garantiu.
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O Presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, tenta equilibrar a gestão da crise, ao mesmo tempo que se distancia das facções drusas mais radicais, fiéis ao líder espiritual Sheikh Hikmat al-Hijri, envolvidas nos confrontos. Al-Sharaa prometeu responsabilizar os autores dos ataques dirigidos e outras violações dos direitos humanos.
Apesar de a maioria drusa ter celebrado a queda do clã al-Assad em dezembro, Hikmat al-Hijri — que no passado manteve algum apoio a Bashar al-Assad — segue uma linha mais confrontacional com o atual governo, ao contrário de outras lideranças drusas que optaram pelo diálogo.
Com o colapso humanitário a pairar sobre Suwayda, o governo sírio aposta tudo na frágil trégua para evitar nova escalada. Contudo, a desconfiança entre comunidades, o envolvimento internacional e a fragmentação política interna ameaçam o processo de reconciliação.