Uma nova geração de designers está a conquistar o mundo com projectos que misturam a herança africana, a contemporaneidade e a interculturalidade.
Contar o mundo, construir o mundo: este parece ser o espírito que move os talentos de origem africana que emergem no panorama do design. Feiras, museus e grandes galerias acolhem a linguagem criativa de um povo que, a partir da própria África ou da sua diáspora, encontra palavras inovadoras para partilhar a sua cultura. Ou melhor, as suas culturas, as de um continente tão vasto e tão rico em histórias que, ainda hoje, permanecem em grande parte desconhecidas.
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Anuncie aqui: clique já!Nenhum lugar sente uma necessidade tão forte como a África de mostrar ao mundo o seu saber-fazer, que combina ritos antigos e ideias de vanguarda, técnicas ancestrais e tecnologias inovadoras. Por outras palavras, há um desejo de reescrever a história, a verdadeira história de África.
David Adjaye, que divide o seu tempo entre Londres, Nova Iorque e Accra, está firmemente convencido disso. De origem ganesa, é o primeiro arquiteto africano a afirmar-se no terreno e, sobretudo, a fazer sobressair nas suas obras o sentido das suas raízes e do seu país de origem.
Os seus projectos mais recentes incluem o Africa Institute nos Emirados Árabes Unidos, o primeiro campus dedicado ao estudo de África e da diáspora africana. Destinada a formar uma nova geração de líderes internacionais, a instituição deverá abrir as suas portas em 2023.
Adjaye faz também parte da direção do Noldor Artist Residency em Accra, um centro criado há dois anos por Joseph Awuah-Darko – um músico, empresário e filantropo de origem ganesa nascido em Middlesex (Inglaterra) em 1996 – que este mês ampliou o edifício com a abertura do primeiro museu de arte contemporânea do Gana.
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Anuncie aqui: clique já!Do Gana a Joanesburgo, muitos jovens empresários decidiram ficar ou regressar ao continente para construir o seu futuro e o das suas comunidades. É o caso de Mpho Vackier, que abandonou a sua carreira de engenheira para se dedicar ao design. A jovem fundou a TheUrbanative, uma marca de mobiliário que explora a herança africana, misturando o artesanato local com a estética contemporânea. “O objetivo é dar visibilidade e representação ao nosso património cultural na sociedade e contar a sua história através do mobiliário”, explica. A marca já colaborou em grandes projectos, desde uma loja da Nike no Soweto a um restaurante na Suíça, e ganhou vários prémios internacionais.
Esta inter-relação dinâmica com o resto do mundo serviu de rampa de lançamento para este património cultural, e a recente colaboração de Peter Mabeo com a Fendi na feira Design Miami/ 2021 é prova disso. O designer nascido no Botswana conseguiu combinar as caraterísticas estilísticas e estéticas da marca, como o famoso F, com os trabalhos em madeira e cerâmica típicos do seu país. Viajou quilómetros e quilómetros por todo o país para encontrar os melhores artesãos e, muitas vezes, para os pôr a trabalhar em conjunto numa única peça de mobiliário. A coleção chama-se Kompa, uma palavra que pode ser traduzida como “aquilo que está completo” e que exprime uma ideia de realização holística, a sensação de completar um círculo, a satisfação de se conhecer a si próprio.
O designer britânico Mac Collins, de 26 anos, nascido na Jamaica, ganhou o prémio Ralph Saltzman, atribuído pelo Design Museum de Londres. Lisa Saltzman, que criou o prémio em homenagem ao seu pai, o inovador fundador da marca Designtex, afirma sobre o jovem designer: “Mac é um digno vencedor. Para além da qualidade estética do seu trabalho, ele vê a sua prática como uma exploração da sua identidade dentro da diáspora africana, o que é realmente interessante”. O trabalho de Mac Collins, atualmente em exposição no museu, é o que melhor sintetiza a mistura intercultural das novas gerações que influenciam o mundo.
A criatividade africana está atualmente a atrair uma grande atenção. Basta ver as muitas intervenções em todo o mundo do burquinense Diébédo Francis Kéré, vencedor do Prémio Pritzker 2022, que se descreve a si próprio como um “afro-futurista”. Outro exemplo é o recente projeto do designer português Emmanuel Babled, que passou meses em Zanzibar com a ideia de ajudar a comunidade local através da criação de uma start-up de mobiliário para ser vendida em todo o mundo. Para não falar das instituições: em Londres, o Victoria & Albert Museum acolhe em junho uma grande exposição sobre a moda africana e o MET de Nova Iorque apresenta atualmente The African Origin of Civilization. O título diz tudo.