Angola: Movimento “Dia 31 Fica em Casa” Entre medo e esperança

A manifestação pacífica para ninguém sair de casa em Angola na sexta-feira, 31 de Março, em protesto contra as más condições de vida da população, está a provocar ampla controvérsia em Luanda, com o Conselho Nacional da Juventude (CNJ) e militantes do partido no poder, o MPLA, a desaconselharem a adesão à campanha. 

Ainda assim, milhares mobilizam-se a favor da iniciativa do activista Nelson Dembo “Gangsta”.

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Há um ano, o activista e rapper, Nelson Dembo, também conhecido por “Gangsta”, foi detido por criticar a governação do Presidente angolano e posteriormente indiciado pelos crimes de instigação à rebelião, associação criminosa e de ultrajar os órgãos de soberania.

“Gangsta” diz não cometer nenhum crime, mas face ao suposto desafio às autoridades angolanas, alega que sua vida e a da sua família correm perigo.

Apesar das ameaças, o músico lança um desafio a todos os angolanos para não saírem de casa ou não irem trabalhar no dia 31 de Março, com o mote de parar o país e fazer uma reflexão em torno da má governação.

Dia 31 de Março ninguém sai de casa, temos de paralisar Angola. Igrejas paralisem. Meus irmãos, que estão na diáspora, por favor, ajudem a massificar a campanha, temos que estar unidos: todos aqueles que se consideram activistas, manos ! Isso é uma missão urgente dos angolanos: tirar o João Lourenço do poder, por causa do desastre que ele está criar para o país. Não será bom para nós, até 2027, ter um individuo que não tem empatia”, finalizou  “Gangsta”. 

Entretanto, Sebastião Maurício, um dos responsáveis do Conselho Nacional da Juventude, organização que congrega plataforma juvenis de partidos políticos e da sociedade civil, demarca-se do movimento e apela a juventude a seguir a vida normal no último dia do mês de março. 

Nós, o CNJ enquanto representante dos jovens, continuamos a apelar os jovens que amanha é um dia normal. Quem tem de ir que vá trabalhar. Não vejo isso,  esse apelo dessas pessoas de forma irresponsável, a ter um impacto na vida dos jovens”, desvalorizou o líder juvenil. 

Tomás Bica, membro do Comité Central do MPLA, também reprova a iniciava, reconhecendo que a manifestação é um direito, mas que não poder ser usada como ferramenta para legitimar objectos inconfessos. 

Ao invés de mobilizar as pessoas a fazerem campanha de limpeza, eis que este indivíduo vem apelando as pessoas a não trabalhar. O emprego já está difícil, vem mais alguém dizer que não vai trabalhar. Reclamar é um direito, manifestar descontentamento é um direito, mas não pode utilizar este descontentamento e esta manifestação com objectos inconfessos, com objectivos de derrubar poder, não é este o caminho”, justificou o também administrador do Município do Cazenga, durante um encontro com jovens. 

Em comunicado distribuído hoje à imprensa, a polícia considera que a campanha poderá provocar caos e rebelião no país, por isso aconselha os cidadãos a não aderirem a tais actos.

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