Angola: O sistema educativo é uma vergonha, segundo os especialistas

Governo reconhece que 50 por cento dos alunos nos meios rurais não regressaram à escola depois da Covid-19 e 15 por cento nos meios urbanos

A ministra da Educação de Angola revelou nesta semana que 50 por cento dos alunos das zonas rurais e 15 por cento da área urbana não regressaram à escola depois da pandemia da Covid-19, em 2020.

Luísa Grilo salientou haver outros factores para esse abandono escolar que considerou preocupantes, como a gravidez precoce.

Especialistas ouvidos consideram ser pouco provável a recuperação destes alunos, mas apontam soluções para minimizar as desigualdades na educação.

Alexandra Simeão, que foi vice-ministra da Educação na década de 1990, diz que a situação é grave e que é quase impossível de recuperar estas crianças neste contexto.

Para ela, a razão avançada pela ministra sobre a gravidez precoce tem ligação com a situação de miséria em que vive a maioria destas famílias.

“Se uma menina decidir faltar sempre que estiver a mestruar, por exemplo, ela vai faltar de 3 a 8 dias por mês, significa que vai faltar um trimestre, e se uma aluna perde um trimestre é óbvio que perde a carruagem e não tem muitas hipóteses de se recuperar”, aponta Simeão que aponta outros factores para o abandono escolar como “a falta de água nas escolas, a pobreza das famílias”.

Problema estrutural

A antiga vice-ministra angolana pensa, no entanto, que a razão maior é estrutural.

“O Governo continua a abandalhar, a negligenciar o sector da Educação de uma forma absolutamente preocupante que a mim faz-me imensa confusão porque sem um povo preparado e escolarizado nunca teremos um país desenvolvido, podemos até crescer por causa do petróleo, mas desenvolvimento vai ser impossível”, conclui Alexandra Simeão.

Este argumento é partilhado pelo sociólogo Heitor Simões, quem atribui a culpa desta situação à falta de investimento sério na educação.

“Não há investimentos na Educação como devia ser, estes dados avançados pela ministra são um problema terrível que num futuro breve teremos as suas repercussões”, alerta Heitor Simões.

Para aquele sociólogo, a solução é relativamente simples, através da intervenção do Estado com a compensação das famílias.

A especialista em comunicação social e docente universitária Anacleta Issenguele apoia-se em dados do UNICEF que dizem que 35 por cento dos casos de gravidez precoce em Angola acontecem em adolescentes de 12 anos de idade e que a causa está na fraca ou inexistente educação sexual em casa.

Ela lembra que “a maior parte das mães são os únicos encarregados de educação e a maioria vive do informal, por isso, é quase impossível esperar delas alguma orientação aos filhos adolescentes porque elas próprias também nunca tiveram acesso a informação sobre educação sexual e entendem também que não devem falar sobre educação sexual com seus filhos adolescentes”.

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