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Ásia-Pacífico/China: Comac, o Rival Chinês que Busca Desafiar Boeing e Airbus no Mercado Aéreo

A Comac, fabricante estatal chinesa, deu um grande passo ao registrar 300 encomendas de seu C919, superando as 615 do A320 da Airbus e as 415 do 737 Max da Boeing em 2024, uma marca histórica, impulsionada pelo dinamismo do mercado doméstico.

Entre as grandes encomendas, destacam-se as da Air China e China Southern, que fizeram pedidos de 100 aviões cada, e a Hainan Airlines, que adquiriu 60 aeronaves. Em 2023, a China Eastern, primeira companhia a operar o C919, também realizou uma encomenda maciça de cerca de 100 aparelhos.

Esse avanço representa uma perda considerável para a Airbus, cujos 20% a 25% de sua produção de aeronaves de médio alcance são destinados ao mercado chinês, segundo o jornal econômico Les Échos.

« Devido às distâncias que precisam ser percorridas, o avião é um meio de transporte indispensável na China, e a Ásia é, de forma geral, um mercado relevante para o setor aéreo », lembrou Marc Ivaldi, professor da Toulouse School of Economics (TSE).

Com o aumento do nível de vida, a China se tornará, ainda neste ano, o maior mercado aéreo mundial, superando os Estados Unidos, com previsão de 1,6 bilhão de passageiros até 2037 (em comparação com 610 milhões em 2018), segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA).

Maior avião comercial já projetado e fabricado pela China, o C919 demorou para decolar. O programa, iniciado em 2007 com pesados investimentos públicos, acumulou vários atrasos, e o avião só recebeu certificação em setembro de 2022 pela Agência de Segurança Aérea da China.

À espera da certificação europeia
Embora o mercado doméstico da China seja uma vantagem significativa, o fabricante tem planos para além das fronteiras do país. A Comac busca obter a certificação europeia para o C919. Esse processo, longo e complexo, foi interrompido pela pandemia de Covid-19, mas os dirigentes da Comac esperam obter a autorização já neste ano.

Com os problemas enfrentados pela Boeing e os longos prazos de entrega, o avião « made in China » visa aproveitar as oportunidades nos próximos anos, enquanto a Europa também deve experimentar um grande aumento no tráfego aéreo. De acordo com a Eurocontrol, o tráfego aéreo europeu pode crescer 52% até 2050.

Uma competição desafiadora
No entanto, o C919 ainda tem um longo caminho a percorrer para competir com Boeing e Airbus, afirma Marc Ivaldi. « Em comparação com o A320, este avião tem várias desvantagens. Ele não oferece grandes inovações tecnológicas. É mais pesado e consome mais combustível. Vai ser difícil para eles conquistarem outros mercados », detalha o especialista da indústria aeronáutica, que também não descarta pressões de Pequim sobre as companhias aéreas chinesas para que adquiram o C919.

Além disso, « o ‘made in China’ ainda carrega um estigma na indústria, mesmo com a China sendo hoje líder mundial no mercado de veículos elétricos », observa o analista Shukor Yusof, baseado em Singapura. « Vai demorar até que o C919 seja encomendado por uma grande transportadora. A questão não é se, mas quando uma grande companhia aérea comprará um avião comercial fabricado na China. »

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Estratégias para atrair mercados estrangeiros
Para conquistar companhias estrangeiras, a Comac pode adotar uma abordagem agressiva nos preços e tentar atrair países asiáticos emergentes, como o Vietnã e o Camboja. Porém, essa estratégia também pode ser arriscada. « Seria necessário um grande desconto, pois o custo operacional do C919 ainda é muito superior ao do A320, e as companhias já podem obter descontos de 30 a 35% com Boeing e Airbus », detalha Marc Ivaldi.

Dependência tecnológica
Como fez com o trem de alta velocidade e os carros elétricos, a China segue sua estratégia meticulosa de reduzir o atraso tecnológico. Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank americano, a Comac recebeu mais de 45 bilhões de dólares do governo chinês. Contudo, apesar do apoio de Pequim, o C919 é, até o momento, um sucesso parcial.

« O C919 ainda utiliza muitos componentes fabricados na Europa e nos Estados Unidos, especialmente os fornecidos pela Safran, que deve garantir contratos significativos. No fim das contas, no mundo interconectado em que vivemos, a indústria aeronáutica europeia acabará se beneficiando deste avião », explica Marc Ivaldi.

Tensões geopolíticas
Esse problema se agrava no contexto das crescentes tensões geopolíticas, com o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Em janeiro, o Pentágono incluiu a Comac na lista de empresas chinesas que poderiam apoiar o complexo militar-industrial da China.

Essa inclusão não impede que empresas americanas vendam equipamentos para a Comac, mas a empresa chinesa se torna mais vulnerável a sanções, da mesma forma que o fabricante de aviões russo UAC, que está sem componentes americanos desde 2019.

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