Na primeira sessão do julgamento histórico contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, realizada nesta segunda-feira, Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, revelou que Bolsonaro considerou decretar o “estado de sítio” e convocar novas eleições após a derrota para Lula em 2022.
O depoimento foi prestado durante cerca de quatro horas em uma audiência transmitida ao vivo pela televisão, na Suprema Corte brasileira. Bolsonaro, que governou de 2019 a 2022, deve ser interrogado ainda esta semana, assim como outros sete acusados — entre eles ex-ministros e militares de alta patente — que são seus colaboradores mais próximos.
Vestido com terno escuro, em contraste com seu habitual estilo mais informal, Bolsonaro sentou-se no banco dos réus perante o ministro Alexandre de Moraes, magistrado influente e polêmico responsável pelo caso, considerado “inimigo número um” do grupo bolsonarista.
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Comprar um espaço para minha empresa.O Ministério Público acusa o ex-presidente de liderar uma organização criminosa que conspirou para impedir o retorno ao poder do presidente Lula, eleito em 2022. Segundo a denúncia, o plano de golpe, que previa inclusive o assassinato de Lula, não avançou por falta de apoio do alto comando militar. Os acusados enfrentam penas que podem chegar a 40 anos de prisão.
Apesar de estar inelegível até 2030, Jair Bolsonaro continua a principal liderança da oposição e nega as acusações, denunciando uma “perseguição política” que visa barrá-lo da eleição presidencial de 2026. Ele ainda espera que sua inelegibilidade seja anulada.
Durante uma pausa na audiência, declarou a jornalistas:
“Não há motivo para me condenar, estou com a consciência tranquila.”
Traidor na defesa do regime
O interrogatório começou com Mauro Cid, que os bolsonaristas consideram um traidor por ter firmado acordo de colaboração com a Justiça visando redução de pena.
Cid afirmou que Bolsonaro “recebeu, leu e modificou” um projeto de decreto elaborado por conselheiros próximos, que previa o decreto do estado de sítio, prisão de autoridades e a criação de um conselho eleitoral para realização de nova eleição após a vitória de Lula em 2022.
Por vezes hesitante, Cid repetiu diversas vezes que não se recordava de datas, horários e locais relacionados às supostas intenções golpistas de Bolsonaro e seu círculo íntimo.
Além disso, confirmou que o general Walter Braga Netto — candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro — teria entregue dinheiro a ele em uma caixa de vinho.
De acordo com as investigações, esse montante destinava-se a financiar uma operação de militares das forças especiais para o assassinato de Lula e outras autoridades.