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Internacional/Ásia: ASEAN redefine alianças estratégicas face ao protecionismo norte-americano

Perante as tarifas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump, os líderes do Sudeste Asiático reúnem-se a 26 e 27 de maio, em Kuala Lumpur, para redesenhar o mapa das suas parcerias económicas.

Reunidos na capital da Malásia para a 46.ª cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), os dirigentes dos dez Estados-membros — Myanmar, Tailândia, Laos, Vietname, Camboja, Malásia, Filipinas, Singapura, Indonésia e Brunei — acolhem representantes da China e do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), numa tentativa de contornar os impactos das políticas protecionistas de Washington.

O objetivo central: colocar a China e os países do Golfo no centro da nova estratégia de diversificação económica da região, mesmo que isso implique reconfigurar o equilíbrio geopolítico da Ásia-Pacífico.

Nova aposta estratégica no Golfo

A presença, esta segunda e terça-feira, de representantes dos seis membros do Conselho de Cooperação do Golfo — Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — marca uma viragem na diplomacia económica da ASEAN. Segundo Khoo Ying Hooi, da Universidade da Malásia, esta aproximação não é “apenas uma sessão fotográfica”, mas sim uma forma de “diplomacia de multi-alinhamento” que demonstra como a ASEAN procura envolver-se com diferentes blocos estratégicos.

Este movimento responde a uma necessidade urgente: as « medidas tarifárias unilaterais » dos EUA colocam « desafios complexos e multidimensionais », refere um projeto de declaração comum consultado pela AFP. A ASEAN manifestará a sua “profunda preocupação” perante estas novas barreiras comerciais.

Washington ausente, Pequim proativa

Enquanto isso, os Estados Unidos mantêm-se em silêncio. O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, enviou um pedido formal ao ex-presidente Donald Trump para a realização de uma cimeira ASEAN-EUA ainda este ano. Contudo, até agora, não houve qualquer resposta, lamenta o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohamad Hasan.

Em contraste, a China acelera os contactos diplomáticos. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, chegou à Malásia depois de visitar a Indonésia, onde advertiu os países da região contra o “unilateralismo” e o “protecionismo”, que ameaçam “a ordem económica internacional”.

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Segundo Anwar Ibrahim, “uma transição na ordem geopolítica está em curso” e o sistema de comércio mundial sofre uma pressão adicional. Denunciou ainda o “colapso do multilateralismo”, enquanto o protecionismo volta a ganhar força. Apesar de a ASEAN ter declarado, no início do ano, que não reagiria com tarifas próprias, a aposta agora passa por reforçar os laços com outros blocos comerciais, incluindo a União Europeia.

Timor-Leste mais perto da integração

O processo de alargamento da ASEAN também avança com a candidatura do Timor-Leste. “Todos me apoiam. Todos. Foi inacreditável”, afirmou o primeiro-ministro Xanana Gusmão, após os encontros de segunda-feira.

Segundo o ministro malásio dos Negócios Estrangeiros, o país lusófono fez “progressos significativos” na aplicação do plano de adesão e conta com um forte apoio para se tornar membro de pleno direito. A adesão oficial poderá acontecer já em outubro de 2025, durante a próxima cimeira.

Pressão contínua sobre Myanmar

Paralelamente aos avanços económicos, a ASEAN mantém a pressão diplomática sobre a junta militar de Myanmar. “O governo birmanês deve cumprir o consenso de cinco pontos que ele próprio assinou”, insistiu Mohamad Hasan.

Apelou ainda a que se prolongue e alargue o cessar-fogo declarado após o sismo de março, com termo previsto para o fim deste mês. No entanto, os esforços diplomáticos têm sido infrutíferos desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, que afastou Aung San Suu Kyi do poder.