Médio Oriente: Três chaves para compreender por que razão o ataque do grupo islâmico palestiniano Hamas a Israel não tem precedentes

Israel declarou o estado de guerra.

Esta declaração foi feita na sequência de um ataque a partir de Gaza pelo Hamas, uma organização palestiniana, no sábado, 7 de outubro. O ataque desencadeou uma das maiores escaladas dos últimos anos no conflito israelo-palestiniano.

O Hamas disparou rockets e enviou dezenas de combatentes armados, que conseguiram penetrar na fronteira sul de Israel.

A ofensiva causou centenas de mortos e feridos, bem como um número desconhecido de reféns.

Poucas horas depois, Israel retaliou com uma onda de ataques aéreos em Gaza, matando centenas de palestinianos.

Aqui estão as três chaves para a escalada sem precedentes do conflito israelo-palestiniano:

1. A entrada do Hamas em Israel

Militantes palestinianos armados conseguiram contornar as defesas de Israel, entrar no seu território e causar dezenas de mortes nas primeiras vinte e quatro horas.

O Hamas já levou a cabo numerosos ataques contra Israel no passado, utilizando uma variedade de tácticas, mas os especialistas acreditam que nunca tentou algo tão audacioso.

Trata-se de um ataque sofisticado e brutal, em que centenas de mísseis são lançados antes de entrarem em território israelita.

O assalto a Gaza envolveu também operações marítimas.

O exército israelita, que retaliou com ataques aéreos em Gaza, afirma que as suas forças navais mataram dezenas de militantes palestinianos que tentavam entrar em Israel por mar.

A fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza está fortemente fortificada.A vedação coberta com arame farpado é suposto impedir o tipo de infiltração com que o Hamas levou a cabo o ataque.

No entanto, os militantes do Hamas têm vindo a romper a vedação com bulldozers, abrindo buracos no arame farpado e entrando em Israel por mar e de parapente.A infiltração de militantes palestinianos em território israelita permitiu ao grupo islâmico não só causar vítimas no interior de Israel, mas também fazer reféns.

Um porta-voz das FDI confirmou que “soldados e civis” tinham sido raptados por militantes, mas não especificou o número de prisioneiros. O Hamas afirmou que estava a manter 53 “prisioneiros de guerra”.

2. Um fracasso dos serviços secretos

Os analistas descrevem o que aconteceu como um colossal fracasso de segurança de Israel, o pior em meio século.

“Israel possui uma das mais extensas e sofisticadas redes de informação do Médio Oriente, tanto no seu território como no estrangeiro. Os seus informadores infiltraram-se em grupos palestinianos, não só nos seus próprios territórios, mas também no Líbano, na Síria e noutros países”, explica Frank Gardner, jornalista da BBC especializado em questões de segurança.

Por isso, é surpreendente que o Hamas tenha sido capaz de surpreender secretamente os israelitas, logo após o fim do Sukkot, uma importante festa para o povo judeu.

“É óbvio que Israel vai responder com força maciça, mas os israelitas vão agora perguntar-se como é que os espiões da sua nação não avisaram o país”, acrescentou.

O correspondente de segurança da BBC afirma que, com os esforços combinados do Shin Bet, o serviço de informações interno de Israel, da Mossad, a sua agência de espionagem externa, e de todos os recursos das Forças de Defesa de Israel, é francamente surpreendente para muitos que ninguém tenha previsto este ataque. Se as FDI previram o ataque, não agiram em conformidade”, escreveu Gardner.

“Um ataque tão complexo e coordenado, envolvendo o armazenamento e o lançamento de milhares de rockets, mesmo debaixo do nariz dos israelitas, deve ter exigido níveis extraordinários de segurança operacional por parte do Hamas”, conclui.

A retórica dos dirigentes israelitas e palestinianos sublinha a gravidade destes confrontos.

Benyamin Netanyahu declarou que o país estava em guerra e que não se tratava de uma operação ou de uma escalada.

O Presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, afirmou que o seu povo tinha o direito de se defender do “terror dos colonos e das tropas de ocupação”.

O comandante militar do Hamas, Mohammad Deif, anunciou o início da operação.

Fez uma declaração na qual apelou aos palestinianos de todo o mundo para que lutassem. “Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação na terra”, declarou.

Por seu lado, o Ministro da Defesa israelita afirmou que “as tropas estão a combater o inimigo em todo o lado”. Autorizou a convocação de reservistas.

Os especialistas prevêem que os próximos dias e semanas serão muito difíceis para as populações de ambos os países.

Alguns habitantes de Gaza apressaram-se a comprar mantimentos, antecipando os próximos dias de conflito. Alguns abandonaram as suas casas e dirigiram-se para locais que consideram mais seguros.

A comunidade internacional está a assistir com preocupação ao conflito, que está longe de um acordo de paz, ter entrado numa fase muito grave.

Segundo os diplomatas, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reunir-se-á no domingo para discutir os acontecimentos das últimas horas.

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