Moçambique. Projetos não estão em causa mas atrasos geram apreensão

O economista-chefe da consultora Eaglestone considerou hoje que a recente violência no norte de Moçambique não coloca em causa o investimento das petrolíferas, mas admitiu que gera apreensão e possíveis atrasos nos projetos de exploração de gás.

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« As empresas petrolíferas têm de ter garantias de segurança e possivelmente as autoridades de Moçambique vão precisar de alguma ajuda internacional, mas já muito foi investido ali, portanto os projetos não estão em risco, poderão é atrasar, e isso é mau para todas as partes », disse Tiago Dionísio, em declarações à Lusa.

Para o analista, o atraso no desenvolvimento dos projetos de extração e exportação de gás natural liquefeito « é preocupante porque o país precisa das receitas do gás » para poder suportar o aumento dos custos com as prestações da dívida soberana, que vão subir para 9% ao ano a partir de 2024.

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« A partir de 2024 as taxas de juro sobre as Eurobond [emissão de dívida soberana] aumentam para 9% e isto poderá colocar algum risco sobre a capacidade de o país vir a pagar os seus compromissos », afirmou o analista, referindo o aumento dos juros exigidos pelos investidores para transacionarem a dívida do país.

« O aumento das taxas reflete alguma apreensão pelos investidores sobre a capacidade das autoridades moçambicanos conseguirem conter esta escalada de insegurança na região », explicou.

O projeto, apontou, « tem de avançar o quanto antes, é fundamental porque Moçambique precisa das receitas do gás e não pode correr o risco de haver outros eventuais compradores que arranjem alternativas ao país ».

O projeto da Total « deverá gerar receitas em torno dos 96 mil milhões de dólares [81,5 mil milhões de euros] nos próximos 25 anos, segundo as estimativas do Governo, e isto é muito significativo tendo em conta que o Produto Interno Bruto do país ronda os 15 mil milhões de dólares », cerca de 12,7 mil milhões de euros, concluiu Tiago Dionísio.

O custo exigido pelos investidores para transacionarem a dívida soberana moçambicana subiu para 10,3%, o nível mais alto desde outubro, no seguimento dos ataques no norte do país, onde está o megaprojeto da Total.

De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, os juros exigidos pelos investidores para transacionarem os 900 milhões de dólares, cerca de 765 milhões de euros, em títulos de dívida soberana subiram hoje 11 pontos percentuais, para 10,3%, evidenciando a incerteza à volta dos investimentos nos grandes recursos de gás natural do país.

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O prémio exigido pelos investidores para transacionarem a dívida no mercado secundário, um valor tanto mais alto quanto maior é a incerteza sobre a capacidade de o Estado pagar a sua dívida, subiu para o nível mais elevado desde 05 de outubro, de acordo com a Bloomberg.

A vila sede de distrito que acolhe os projetos de gás do norte de Moçambique foi atacada na quarta-feira por grupos insurgentes `jihadistas` que há três anos e meio aterrorizam a região.

Dezenas de civis, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, no norte de Moçambique, foram mortos pelo grupo armado que atacou a vila na quarta-feira.

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A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou hoje o controlo da vila de Palma.

A agência oficial do movimento, a Amaq, divulgou imagens da vila e reivindicou a ocupação do capital do distrito, junto à fronteira com a Tanzânia.

Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora existam relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona

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