Viajando na ficção com Lilly Maxwell: Entre O Amor e a Razão, Capitulo 2

Enquanto que para Ana , Vale dos prazeres era um paraíso, para Miguel era uma prisão. Ele não via a hora de poder sair daquele lugar que para ele estava estagnado no tempo. Ele ambicionava conhecer o mundo e nada o impediria de concretizar seu sonho.

Miguel era o filho mais velho de Simão e Adélia. Eles tinham mais 3 meninas, Sandra, Débora e Manuela. E Miguel como mais velho e único rapaz tinhas responsabilidades acrescidas. Mas ele só pensavam em escapar, aventurar-se e conhecer outros lugares. Ele queria ser alguém importante e não apenas o filho de um fazendeiro. Quando terminou o ensino médio , com ajuda de seu tio, irmão do seu pai, ele conseguiu uma bolsa para fazer faculdade, mas teria que mudar-se para a capital.

Seu pai sabia o que isso significava e só cedeu depois que Miguel prometeu que viria passar suas férias com a família e, depois de concluir a faculdade voltaria para gerir a fazenda do pai.

Miguel juraria qualquer coisa para conseguir realizar seu sonho, e foi isso que fez. Cumpriu as exigências do pai a risca , e todas as férias voltava ao Vale e passava o tempo com a família. Mas terminou a faculdade mais cedo e conseguiu um emprego em uma empresa de consultoria e logística. Quando seus pais descobriram, decidiram que era hora de o fazerem voltar as raízes e uma esposa com os hábitos e costumes da Vila seria o ideal para chamar seu filho a razão.

De entre todas as raparigas solteiras da Vila, escolherem a inocente e bela Ana. Uma mocinha cheia de qualidades, obediente e que amava aquela terra. O plano foi colocado em acção e para felicidade de Simão e Adélia os pais de Ana acolheram o pedido com bastante satisfação. Enquanto decorriam os preparativos para o casamento, sem conhecimento do noivo, as famílias foram estreitando laços e Ana era vista como uma das filhas da casa. Adélia amava Ana como se fosse sua e cada vez mais se convencia que havia feito uma excelente escolha para seu filho. Só esperava que Miguel visse as qualidades em Ana que ela também tanto apreciava.

Miguel chegou a Vila um dia antes da cerimónia. Depois do jantar seus pais o chamaram e o informaram da decisão. Miguel não conseguiu dizer uma única palavra depois disso, ficou bons minutos apenas olhando para o nada.

Seus pais o haviam montado uma armadilha. Um casamento arranjado com a filha de um amigo de seu pai. Não importa se era de uma família amiga, se havia sido educada de acordo com as tradições e costumes da sua terra natal, nada disso justificava a traição de seus pais.

– Não acredito nisto.- Miguel fala por fim.

– Tu és o nosso único filho e sabes o que isso significa na nossa tradição. deves continuar o novo e o legado da nossa família.- Seu pai , responde ligeiramente irritado.

– Eu não preciso que escolham uma mulher para mim.- Miguel fala indignado.

– Achas que te deixaríamos casar com uma moça da cidade grande, sem valores morais ou princípios. Tu podes estar deslumbrado com a vida lá, mas atenção meu filho, nem tudo que brilha é ouro.Nós somos uma família tradicional e aqui na Vila somos pessoas respeitadas e devemos dar o exemplo.- O pais insiste.

– E querem que me case com uma camponesa?? A sério! Eu não pretendo voltar a viver neste lugar, nunca mais. Se esse era vosso plano, lamento dizer-vos que não vai acontecer.

– Ana é uma boa moça, tu vais…- A mãe tenta intervir mas Miguel a corta.

– Não me interessa quem ela seja mãe. Por favor, entenda, eu já tenho alguém e pretendo casar-me com ela. Gostaria que a conhecessem, tenho certeza que vão gostar dela.- Miguel segura as mãos da mãe, tentando apelar para o seu lado sensível.

– Nós somos teus pais e sabemos o que é melhor para ti e para esta família. – Berras

Seguiu-se uma discussão acesa com seu pai e , em meio a vozes graves e exaltadas, sua mãe caí dura no chão, perdendo os sentidos. Depois que recuperou , o fez jurar que não iria contra a vontade de seu pai.Vendo o estado de saúde de sua mãe Miguel fez o que sua mãe pediu e aceitou casar-se com a mulher que seus pais escolheram para ele. A cerimónia aconteceu dois dias depois, pois Miguel pediu tempo para assimilar tudo.

Foi uma cerimónia linda, com rituais que datavam de séculos e que haviam passado por várias gerações.

Mas , Miguel não viu beleza nenhuma, sentia-se um cordeiro sendo levado ao altar para ser sacrificado.

” Uma esposa que nunca vi em toda minha vida.” Ele pensava irritado.

Mas as duas famílias estavam felizes com a união pois, era mais que uma união de duas pessoas, mas de duas famílias que se tornariam uma só. A amizade se solidificaria mais, de amigos se tornariam irmãos.

Miguel descobrira , mais cedo, no dia do casamento que o desmaio de sua mãe fora um teatro para manipula-lo. Para obriga-lo a aceitar o casamento. Ele então elaborou um plano: cumpriria com a promessa que fez a sua mãe mas, não ficaria nem mais um dia naquele lugar. Não consumaria seu casamento e nunca mais voltaria ali, como forma de mostrar seu desagrado pela atitude de seus pais.

E o plano decorreu na perfeição. Ele só viu a sua esposa por alguns segundos, quando a cerimónia terminou.Não olhou duas vezes para a mulher parada a sua frente , não quis nem levantar o véu para ver seu rosto. Mesmo com todos os olhos fixos no casal de noivos, Miguel conseguiu dar meia volta e afastar-se , sem olhar para trás.

E por anos, ele ficou afastado da sua família, alimentando mágoa e rancor, acreditando que esqueceria suas raízes e se tornaria um novo homem. Ele sofreu em silêncio, com saudades do carinho, do calor da família, dos beijos e abraços de sua mãe. Apenas o orgulho o impedia de olhar para trás.

Porém, o destino arranja sempre uma forma de devolver-nos ao nosso lugar, de corrigir os erros, e traçar um novo caminho para as nossas vidas. E com Miguel não seria diferente.

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