Angola/Finanças: Os lucros do sector bancário quadruplicaram em 2021

Os lucros líquidos do sector bancário angolano aumentaram 295% em 2021 para 592,402 mil milhões de kwanzas (1,3 mil milhões de euros), com o Banco Económico (BE) a recuperar das perdas dos últimos anos e a liderar a tabela.

Os números estão no estudo “Banking under Analysis 2022” da consultoria Deloitte, que está a ser apresentado na terça-feira em Luanda, e que analisa em detalhe os 25 bancos que operam no sistema financeiro do país, tendo em conta o seu desempenho em vários indicadores financeiros.

O documento conclui que a melhoria de Angola e consequente reversão das perdas por imparidade, bem como a variação positiva nos resultados do Banco de Poupança e Crédito (BPC) estatal, apesar de ainda ser negativo, e do BE, que registou o maior lucro dos bancos analisados, após dois anos de grandes perdas, foi decisivo para o crescimento dos resultados líquidos.

O resultado líquido global foi, no entanto, atenuado “pela queda significativa dos resultados cambiais, que caíram 96% em 2021” – com base em dados que excluíam a BE, devido à indisponibilidade de informação para aquela instituição.

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Excluindo BPC e BE da análise, o lucro líquido global em 2021 registou ainda um aumento de 40% em relação ao ano anterior, indicando claramente uma recuperação no sector.

Os cinco principais bancos mais rentáveis no ano passado incluem o Banco Económico, Banco de Fomento Angola (BFA), Banco Angolano de Investimento (BAI), Standard Bank e BIC.

Entre os bancos que registaram perdas, além do BPC, encontram-se o Keve, Banco de Comércio e Indústria (BCI) – que foi privatizado no final de 2021 e agora pertence ao Grupo Carrinho – e o Banco Prestígio, que teve uma perda de exploração e viu a sua licença revogada a 30 de Setembro.

Houve também um aumento do crédito a clientes na estrutura global de activos, que aumentou de 17% para 19%, impulsionado por medidas de incentivo emitidas pelo Banco Central, o Banco Nacional de Angola (BNA). Mas o peso dos empréstimos em relação ao total dos activos “continua muito longe do que se verifica noutras economias globais”, incluindo no continente africano, constata o estudo da Deloitte.

“O facto de as taxas de juro permanecerem elevadas leva as empresas a recorrer a outros tipos de fontes de financiamento”, acrescenta o estudo, que não inclui na sua análise a BE e a VTB de propriedade russa.

Em contraste, o peso das obrigações e títulos nos resultados dos bancos angolanos continua a ser mais elevado do que nos mercados mais maduros, em resultado da sua significativa exposição à dívida pública angolana, embora o rácio tenha diminuído 3 pontos percentuais em relação a 2020.

O valor total dos activos bancários (excluindo o VTB devido à falta de informação) era equivalente a cerca de 17,412 mil milhões de kwanzas (39 mil milhões de euros) no final de 2021, uma diminuição de 5,4% em relação ao ano. Isto diz respeito à valorização e subsequente estabilização do kwanza em relação ao dólar e ao euro em 2021.

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Os cinco maiores bancos (BAI, BFA, BIC, BPC e Atlântico) representavam 65% do total dos activos bancários no final do ano.

O capital próprio era de 2,076 mil milhões de kwanzas (4 mil milhões de euros) no final de 2021, mais 20% do que no ano e 293% em 2014.

O estudo conclui que, dado o grande número de bancos concorrentes no sistema financeiro angolano, devem definir “modelos de negócio que lhes permitam assegurar um posicionamento diferenciado no mercado, tanto em termos de segmentação dos clientes, como dos produtos e serviços que fornecem”.

Observou também que a questão da sustentabilidade, tanto em termos de cumprimento de indicadores ou rácios específicos e requisitos de informação regulamentar como em questões relacionadas com os critérios ESG (Environmental, Social and Governance), é uma questão cada vez mais urgente.

Entretanto, em alguns casos, a incapacidade dos accionistas em cumprir os requisitos de capital levou o BNA a retirar algumas licenças bancárias – sendo o caso mais recente o Prestige.

O estudo também regista as expectativas relativamente à implementação do Plano de Recuperação e Reestruturação da BE, que refere ser “um banco sistémico” e que deverá voltar a ocupar uma posição de destaque na economia.

Observa ainda que o regulador, “continua a tomar medidas que visam a sustentabilidade do sistema financeiro angolano”, tais como o aumento do capital social mínimo exigido e a aprovação dos regulamentos do Fundo de Resolução do sector bancário que deverá ser criado com contribuições dos bancos e do Estado angolano, a fim de se precaver contra riscos sistémicos.

“O BNA tem vindo a assumir um papel mais intrusivo na supervisão do sector bancário, com a abertura de processos de infracção por incumprimento dos regulamentos em vigor, especificamente da legislação cambial, o que coloca desafios aos bancos no sentido de reforçarem os seus sistemas de controlo interno”, observa o relatório.

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