O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os seus homólogos da NATO reúnem-se esta terça-feira para uma cimeira decisiva que poderá consolidar um novo compromisso de defesa comum ou aprofundar divisões no seio da maior aliança militar do mundo.
Até há poucos dias, o cenário era otimista. O novo Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, mostrava-se confiante de que os membros europeus e o Canadá iriam finalmente igualar o esforço económico dos EUA na área da defesa. No entanto, a rejeição da Espanha à proposta de elevar os gastos com defesa para 5% do PIB abalou esse otimismo. Madrid classificou a meta como “inaceitável”. Trump, que também defende o novo valor, não escondeu a sua frustração: “A NATO vai ter de lidar com a Espanha. É um pagador muito baixo.”
O antigo primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez e o Canadá foram alvos das críticas de Trump, que acusou Ottawa de gastar apenas 1,45% do PIB em defesa, segundo dados da própria NATO. A aliança funciona por consenso — o que significa que qualquer um dos 32 membros pode bloquear uma decisão.
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Comprar um espaço para minha empresa.Ecos de divisões passadas e novas tensões
A tensão entre os aliados não é nova. Em 2003, a invasão do Iraque liderada pelos EUA dividiu a NATO, com França e Alemanha a oporem-se à guerra, enquanto Reino Unido e Espanha se juntaram à coligação. Agora, a recente ordem de Trump para bombardear instalações nucleares no Irão volta a colocar o presidente norte-americano no centro da controvérsia.
A situação complica-se com o desejo de vários aliados europeus e do Canadá de dar prioridade à Ucrânia nesta cimeira, uma intenção que poderá não agradar a Trump, que receia ver Volodymyr Zelenskyy monopolizar as atenções. Embora convidado, não está claro se o presidente ucraniano terá lugar à mesa da NATO, podendo limitar-se a participar no jantar informal de terça-feira.
Um encontro curto com impacto duradouro
A cimeira, que decorre em Haia, terá apenas dois dias: um jantar informal esta terça-feira e uma sessão de trabalho na manhã de quarta-feira. Um comunicado final reduzido já foi redigido para evitar disputas sobre formulações. Apesar da brevidade, as decisões poderão ter repercussões por décadas.
A NATO foi fundada em 1949 com 12 países, para responder à ameaça soviética na Europa. Desde então, expandiu-se para 32 membros, com a entrada da Suécia em 2023, motivada pela agressividade crescente da Rússia. O Artigo 5, que garante a defesa coletiva, é o pilar central da sua credibilidade — embora Trump tenha deixado dúvidas sobre o seu compromisso real com esse princípio.
Influência americana e futuro incerto
Os EUA continuam a ser o pilar militar da NATO, com um orçamento de defesa superior ao de todos os outros aliados juntos e uma presença estratégica que vai do Atlântico ao Mar Negro. Contudo, sob Trump, Washington tem recuado no seu papel de liderança, transferindo mais responsabilidades para os aliados.
Mark Rutte, ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, lidera o trabalho político da organização a partir de Bruxelas, enquanto o quartel-general militar em Mons (Bélgica) continua a ser comandado por um general norte-americano.
Desafios logísticos e planos de prontidão
A NATO está a planear poder mobilizar até 300 mil militares em 30 dias em caso de ataque — seja terrestre, aéreo, marítimo ou cibernético. Mas especialistas questionam a capacidade real dos aliados de reunir esse efetivo. O impacto dissuasor da aliança depende não apenas dos números, mas da perceção de que estão dispostos a agir.
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Anuncie aqui: clique já!Trump, com as suas ameaças de tarifas e retórica crítica, tem contribuído para fragilizar essa dissuasão.
Gastos militares: um equilíbrio instável
Graças ao seu investimento contínuo, as forças armadas dos EUA têm mais efetivos, melhores equipamentos e superior capacidade logística. Em resposta à anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e à invasão total da Ucrânia em 2022, os aliados comprometeram-se com um mínimo de 2% do PIB para defesa.
Em 2023, 22 países atingiram esse objetivo, contra apenas três uma década antes. Para esta cimeira, estava previsto aumentar esse esforço para 3,5%, mais 1,5% adicional destinado a infraestruturas e preparação civil — mas a rejeição espanhola lançou tudo em dúvida.