Um teatro e uma piscina em Mariupol, que funcionavam como abrigo de civis, foram atacados. No interior estavam crianças e grávidas, dizem as autoridades ucranianas. O MNE fala em crime de guerra.
Forças russas bombardearam esta quarta-feira um teatro e uma piscina que serviam de abrigo a civis, incluindo várias crianças, na cidade cercada de Mariupol. A informação foi avançada esta quarta-feira pelo governo ucraniano, não havendo ainda informação sobre vítimas.
O Ministério da Defesa da Rússia nega ter conduzido qualquer ataque aéreo e afirmou que o prédio foi destruído numa explosão desencadeada pelo batalhão nacionalista ucraniano Azov, diz a agência AFP. Também na semana passada, o governo russo responsabilizou o batalhão Azov por um ataque a uma maternidade em Mariupol.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia diz que as forças russas tinham conhecimento que teatro tinha civis e fala de crime de guerra. “Outro crime horrendo em Mariupol. Enorme ataque russo ao teatro onde centenas de civis inocentes estavam escondidos. O edifício está agora totalmente arruinado. O russos não podiam não saber que era um abrigo civil. Salvem Mariupol! Travem os criminosos de guerra russos“, escreveu Dmytro Kuleba no Twitter.
O vice-presidente da câmara de Mariupol, Serhiy Orlov, disse à BBC que 1.000 a 1.200 pessoas estavam dentro do edifício na altura do ataque. Petro Andriushchenko, conselheiro do presidente da câmara, indicou que este abrigo era o maior da cidade.
“O número de mortos e feridos é desconhecido. A probabilidade de ir até lá e desmantelar os destroços é baixa devido ao constante bombardeamento da cidade”, afirmou, citado pela CNN.
Apesar de não haver ainda informação sobre vítimas, Pavlo Kyrylenko, chefe da administração regional de Donetsk, que inclui Mariupol, alerta que há “mulheres grávidas e mulheres com crianças debaixo dos escombros”. “Isto é puro terrorismo”, escreveu no Facebook.
Na sua conta de Telegram, a câmara municipal de Mariupol disse que as forças russas “propositada e cinicamente destruíram o Teatro Drama no coração de Mariupol. O avião lançou uma bomba num edifício onde centenas de residentes pacíficos estavam escondidos”.
“É impossível estimar a escala deste ato horrível e desumano (…) Sabe-se que depois de bombardeamento, a parte central do Teatro Drama ficou destruída, e a entrada do abrigo, no edifício, ficou destruída. É impossível encontrar palavras para descrever o nível de crueldade e cinismo com que os ocupantes russos estão a destruir a população civil da cidade ucraniana à beira-mar. Mulheres, crianças e idosos continuam na mira do inimigo. São pessoas pacíficas, completamente desarmadas. Nunca vamos perdoar e nunca vamos esquecer”, diz o comunicado, citado pela CNN.
Uma imagem de satélite divulgada pela empresa Maxar mostra a palavra “crianças” escrita em russo, no exterior do edifício, de modo a alertar para a presença de menores no interior.
Ainda assim, o deputado ucraniano Vadym Halaichuk diz ter esperança que as pessoas no interior deste abrigo tenham sobrevivido, já que é uma instalação construída para resistir a este tipo de embate. “Temos muita esperança que a maioria das pessoas sobreviveu, já que se trata de um abrigo contra bombardeamentos especial, que deverá dar proteção nestas circunstância”, disse, em entrevista à BBC.
Halaichuk diz que as forças russas tinham conhecimento que o teatro estava a ser usado como abrigo, já que foi dada informação “aos comandantes das tropas ocupantes”. “Eles sabiam perfeitamente que muita gente tinha ido para ali para se refugiar”, afirmou.
Ao final da tarde soube-se também do ataque a uma piscina na cidade portuária. “Forças armadas russas disparam sobre um complexo de uma piscina em Mariupol. Crianças e grávidas estão debaixo de escombros”, revelou o parlamento ucraniano, através da conta oficial de Telegram.
A Verkhovna Rada diz que a piscina Neptune estava a ser usada como abrigo. “Os bombardeamentos continuam, por isso é impossível desmantelar o bloqueio”, lê-se no comunicado. O parlamento ucraniano diz que as forças russas estão “deliberadamente a bombardear civis”. “Os ocupantes atingem propriedades civis, onde sobretudo mulheres e crianças estão escondidas. O número de vítimas e desconhecido”, afirma. Esta piscina fica a cerca de quatro quilómetros do teatro.
A televisão NEXTA divulgou um vídeo do abrigo no teatro, antes do ataque. Podem ver-se muitas crianças no interior.
A cidade portuária de Mariupol tem estado sob forte ataque russo desde o início da guerra, com as autoridades ucranianas a fazerem repetidos apelos a corredores humanitários para retirar de lá civis. A cidade está sem eletricidade, água e gás, e há dificuldades no abastecimento de comida e medicamentos. Na semana passada, cinco pessoas morreram depois de um ataque a um hospital.