A Comissão Europeia está a preparar os Estados-membros para ativar o mecanismo de defesa comercial anti-coerção, caso as negociações com os Estados Unidos fracassem até 1 de agosto, revelaram fontes diplomáticas à Euronews. A medida, considerada « opção nuclear », permitiria restringir o acesso dos EUA a contratos públicos, licenças e direitos de propriedade intelectual no espaço europeu.
Durante uma reunião esta quarta-feira, a Comissão apresentou uma ficha técnica com os passos jurídicos necessários para acionar o instrumento, salientando que existe já uma maioria qualificada entre os países da UE pronta para avançar em caso de ausência de acordo.
Paralelamente, o comissário europeu para o Comércio, Maroš Šefčovič, mantém contacto direto com o secretário do Comércio norte-americano, Howard Lutnick, enquanto se intensificam os contactos técnicos e políticos para evitar um colapso nas negociações.
Pressão crescente e ameaça de tarifas
A tensão aumentou após o ex-presidente Donald Trump ameaçar, a 12 de julho, aplicar novas tarifas de 30% sobre produtos europeus a partir de 1 de agosto, caso não haja um entendimento. Atualmente, os EUA impõem tarifas de 50% sobre o aço e alumínio europeus, 25% sobre automóveis e 10% sobre outras importações.
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Comprar um espaço para minha empresa.Face a este cenário, a UE está a ultimar uma lista consolidada de contra-medidas no valor de 93 mil milhões de euros, abrangendo serviços digitais, financeiros e produtos estratégicos norte-americanos. A fusão de duas listas distintas de produtos foi confirmada pelo porta-voz da Comissão, Olof Gill, que reforçou:
“Embora a nossa prioridade sejam as negociações, devemos estar prontos para todas as eventualidades, incluindo medidas adicionais de retaliação”.
Jantar decisivo em Berlim
Segundo fontes próximas, um jantar entre o chanceler alemão Friedrich Merz e o presidente francês Emmanuel Macron, marcado para esta quarta-feira em Berlim, poderá ser crucial para assegurar a maioria necessária para a adoção das medidas. Ambos os países procuram alinhar posições antes do prazo decisivo.
O ministro francês da Indústria, Marc Ferracci, foi claro ao defender uma postura mais firme:
“Precisamos mudar a nossa abordagem. Devemos ser capazes de retaliar e colocar na mesa opções que alterem o equilíbrio da negociação”.
Tarifas de retaliação: 21 mil milhões em jogo
De acordo com o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, a UE já tem preparada uma primeira vaga de tarifas no valor de 21 mil milhões de euros sobre produtos americanos, podendo ser seguida de uma segunda, caso não haja avanços. Apesar disso, Tajani acredita numa solução negociada:
“As tarifas prejudicam a todos, inclusive os EUA. Quando os mercados caem, está em risco a poupança e as reformas dos americanos.”
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já tinha avisado em abril que a UE está disposta a impor tarifas sobre os serviços norte-americanos, onde os EUA têm superavit comercial, caso o conflito escale.