Os coronavírus são impulsionados por ações humanas

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O coronavírus (COVID-19) é uma doença zoonótica transmitida entre animais e seres humanos. As zoonoses ameaçam significativamente a nossa saúde. Quando os sintomas são graves, a falta de exposição prévia leva à ausência de anticorpos para nosso corpo se defender. Alguns exemplos de surtos recentes incluem a Síndrome Respiratória Aguda Grave ou SARS (2002); a Influenza Aviária ou Gripe Aviária (2004); o H1N1 ou a Gripe Suína (2009); a Síndrome Respiratória do Oriente Médio ou MERS (2012); o Ebola (2014– 2015); o Zika Vírus (2015-2016); e a Febre do Nilo Ocidental (2019).

Quase um século de tendências globais confirmam que os surtos zoonóticos estão mais frequentes. Um relatório de 2016 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) sinalizou essa situação como uma questão de preocupação global. A cada ano surgem em média três novas doenças infecciosas em seres humanos e 75% delas são zoonóticas.

O que está provocando o aumento dessas doenças? Confira abaixo o que décadas de pesquisas científicas podem nos dizer:

Cole_Keister-Unsplash

Os coronavírus são impulsionados por ações humanas

De acordo com a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), « existe apenas uma espécie responsável pela pandemia do COVID-19 – os seres humanos ».

Nem todos os coronavírus resultam em uma nova doença zoonótica. Sem transmissão entre animal e ser humano, o SARS-CoV-2 não teria se apresentado na forma do COVID-19. De fato, há outros coronavírus circulando em animais que ainda não nos infectaram.

Contudo, os coronavírus estão nos atingindo mais frequentemente porque estamos oferecendo a eles mais oportunidades para disseminação. Nos últimos 50 anos, a população humana mundial dobrou e a economia global quase quadruplicou. A rápida migração de áreas rurais para áreas urbanas e a criação de novos centros urbanos afetaram a demografia e nossos estilos de vida e práticas de consumo.

Mudanças ambientais

As mudanças em nosso estilo de vida alteraram drasticamente a terra ao nosso redor. Nós destruímos florestas e outros ecossistemas naturais para criar espaços para áreas urbanas, assentamentos, terras agrícolas e indústrias. Ao fazermos isso, reduzimos o espaço da vida selvagem e degradamos as barreiras de proteção natural entre seres humanos e animais.

A mudança climática também impulsiona zoonoses. As emissões de gases de efeito estufa – principalmente os que resultam da queima de combustíveis fósseis – alteram a temperatura e a umidade do planeta, o que afeta diretamente a sobrevivência dos micróbios. As transformações aceleradas dos habitats causadas por eventos climáticos incomuns, como calor, seca, inundação ou incêndios florestais, não permitem que os ecossistemas equilibrem picos repentinos na população de algumas espécies – como os mosquitos –, que podem se tornar vetores de doenças emergentes. Programada para ser lançada no próximo mês, uma avaliação sobre zoonoses feita pelo PNUMA e pelo Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI) sugere que as epidemias se tornarão mais frequentes conforme o clima continuar mudando.

Ales_Krivec_Unsplash

Mudanças comportamentais

A demanda por carnes e laticínios levou à expansão das áreas de cultivo uniformes e da pecuária intensiva nas áreas rurais e urbanas. Os rebanhos geralmente servem de ponte entre a vida selvagem e as infecções humanas, dado que os patógenos podem ser transmitidos de animais selvagens para rebanhos e de rebanhos para seres humanos.

Uma grande preocupação são os mercados informais, onde animais selvagens são guardados e vendidos vivos, geralmente em condições insalubres e anti-higiênicas. Quando não seguimos práticas sanitárias e de proteção, há maior facilidade de vírus e patógenos se espalharem entre bichos muito próximos e inclusive alcançarem os seres humanos que os manuseiam, transportam, vendem, compram ou consomem.

 Alterações patogênicas

Com o aumento da agricultura intensiva e o uso excessivo de medicamentos antimicrobianos em animais e pessoas, os patógenos estão se tornando mais resistentes a essas substâncias que um dia foram eficazes no tratamento de outras zoonoses, constantemente evoluindo para sobreviverem em diferentes animais, seres humanos e ambientes.

O que o COVID-19 está nos ensinando

O COVID-19 é um lembrete de que a saúde humana e a saúde ambiental estão intimamente conectadas. Existem cerca de 8 milhões de espécies na Terra, das quais os seres humanos representam apenas uma. Esse valor inclui também cerca de 1,7 milhão de vírus não identificados, mas que podem infectar pessoas, estando presentes em mamíferos e aves aquáticas. Se não nos prevenirmos agora, podemos ser facilmente infectados no futuro.

A principal maneira de nos protegermos das zoonoses é impedindo a destruição da natureza. Onde os ecossistemas são saudáveis ​​e biodiversos, há resiliência, adaptabilidade ​​e regulação de doenças.

Uma maior biodiversidade e integridade ecossistêmica pode ajudar a controlá-las por meio da diversidade de espécies, de modo que fica mais difícil para um patógeno se espalhar rapidamente ou dominar. Os patógenos que passam por vários animais têm mais chances de se depararem com pontos de resistência.

De acordo com um relatório do IPBES de 2017, a diversidade genética gera resistência a doenças e diminui a probabilidade de grandes surtos. Por outro lado, a pecuária intensiva gera semelhanças genéticas, reduzindo a resiliência e tornando os rebanhos mais suscetíveis à disseminação de patógenos. Isso, por consequência, também expõe os seres humanos a maiores riscos.

O que o PNUMA está fazendo

À medida que o mundo lida com a crise do COVID-19 e começa a se recuperar do impacto causado por essa pandemia global, o PNUMA está ajudando as nações a se recuperarem melhor e aumentarem a resiliência a crises futuras. Além disso, está apoiando os países no fornecimento de políticas científicas mais fortes que apoiem ​​um planeta mais saudável e orientem investimentos verdes.

Reconhecendo que essa ainda é nossa maior oportunidade para o futuro, o PNUMA incentiva os países a avançarem na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, no Acordo de Paris e em outros acordos cruciais acerca de questões como biodiversidade, conservação dos oceanos e gestão de químicos e resíduos.

Com seus parceiros, o PNUMA também está lançando a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas 2021-2030 – um esforço de 10 anos para deter e reverter a degradação mundial dos ecossistemas – e trabalhando para desenvolver um novo e ambicioso Marco Pós-2020 de Biodiversidade.

Em 5 de junho, o Dia Mundial do Meio Ambiente engajará governos, empresas, celebridades e cidadãos a repensarem seus relacionamentos com a natureza e convocará líderes para que sejam tomadas decisões centradas no meio ambiente. Devemos agir com solidariedade e embasados pela ciência.