Política/Reino Unido: Liz Truss e a piada acabou

O país, ridicularizado na cena internacional, é liderado por um partido sem um líder ou um plano”, disse o colunista do Daily Telegraph, um jornal próximo dos Conservadores. Chegou o momento de convocar uma eleição.

“O passado é um país estrangeiro, lá fazem as coisas de forma diferente”, escreveu o autor inglês L.P. Hartley em 1953. De facto, é o presente que se tornou um país estrangeiro e que claramente nos naufragámos nele. Esqueça a estável, ponderada e sensata Grã-Bretanha de outrora, tornámo-nos o Sul da Europa. Mas não de uma boa maneira.

Já ninguém governa, excepto os homens do dinheiro – ou os mercados, já que é assim que se lhes deve chamar. Quando ler isto, o Primeiro-Ministro poderá ter dado o seu último suspiro na política. Em vergonha.

Não se trata de tolerar um novo primeiro-ministro nomeado pelos membros do Partido Conservador quando Liz Truss se for embora. É necessária uma eleição. Numa questão de semanas, Truss acaba de conseguir unir o FMI, Joe Biden e a maioria das suas tropas contra ela. Ela está terminada. A festa está terminada.

Alguns apelam para o regresso de Boris Johnson. Outros argumentam que precisamos de nos unir em torno de um candidato unificador, mas não existe tal candidato, nem existe qualquer objectivo comum.

Os eleitores estão fartos, desencorajados e têm uma sensação muito desagradável de que o seu voto está a ser tomado como garantido. Já nem sequer é um partido político. O seu chamado mandato já não é válido. Ninguém votou a favor desta confusão, de rendas mais elevadas, de facturas altas, de taxas de juro altas.

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Seis semanas de caos em Downing Street

6 de Setembro – Os activistas conservadores escolhem Liz Truss para suceder a Boris Johnson como líder do partido, e portanto do governo.23 de Setembro – O Ministro das Finanças Kwasi Kwarteng promete £45 mil milhões em cortes de impostos e liberta £60 mil milhões para enfrentar a crise energética. Tudo financiado pela dívida. O pânico dos mercados, a libra desaba, e as taxas de juro disparam.14 Outubro – Para acalmar os investidores ainda inquietos, Liz Truss divide o caminho com Kwasi Kwarteng, que é substituído por Jeremy Hunt.17 Outubro – Jeremy Hunt anula quase todos os cortes fiscais introduzidos pelo seu predecessor. “A Trussonomics está morta”, diz o semanário conservador The Spectator. “Hunt está agora no comando”, diz o Financial Times.

Não basta dizer que a Truss herdou uma das responsabilidades mais pesadas de todos os tempos. Isso pode ser verdade, mas ela tomou para si a tarefa de piorar a situação. Contudo, não estou a culpá-la sozinha – nem a corrupção de Johnson, nem a instabilidade de May (que, em retrospectiva, é um modelo de estabilidade e força ao lado de Truss). Tudo isto remonta a Cameron [Primeiro-Ministro 2010-2016], que deixou acontecer o referendo Brexit e deixou [o seu ministro das finanças] George Osborne e a sua “austeridade”, que foi concebida para empobrecer ainda mais os mais pobres do país, prosseguirem. Todos estes “líderes” têm contribuído para a situação actual.

Qual é o objectivo do Partido Conservador?

Recentemente perguntei muitas vezes o que representa o Partido Conservador – porque para além de permanecer no poder, é difícil saber. Quem poderia dizer hoje honestamente que é competente e fiável?

Agora a Truss está a fazer uma cara de “ouvir” ou, de facto, “ser avisada” para o fazer. Normalmente eu teria simpatia por alguém que é publicamente humilhado a este ponto. Mas onde estava a sua simpatia por aqueles que já perderam toda a possibilidade de comprar um apartamento ou que vão ser despejados?

Ninguém votou para que nos tornássemos motivo de riso para todo o mundo. Em que tipo de democracia estamos a viver? Porque se resume a isto. O governo é suposto servir-nos e não apenas manter-se no poder. Vemos os países que o fazem como estados maus, não responsabilizados pelos seus cidadãos.

Sem eleições, este é exactamente o tipo de estado em que em breve viveremos.

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