Tecnologia: Um ano de Twitter sob a liderança caótica de Elon Musk

Em 27 de outubro de 2022, o bilionário gastou 44 mil milhões de dólares para assumir o controlo da rede social. Eis a retrospetiva de um ano louco e preocupante.

Há um ano, no dia 27 de outubro de 2022, Elon Musk comprou o Twitter por 44 mil milhões de dólares, após meses de uma saga hollywoodesca marcada pelos ataques vitriólicos do bilionário e por reviravoltas jurídicas. Aqui está uma retrospetiva do ano em que o pássaro azul do Twitter se tornou X.

Assim que a aquisição foi concluída, o patrão da Tesla despediu a equipa de gestão, retirou a empresa da bolsa e despediu centenas de empregados. Após várias vagas de despedimentos, restam menos de 1.500 dos cerca de 8.000 empregados da empresa de São Francisco. Os sobreviventes tiveram de se comprometer a trabalhar “sem restrições, incondicionalmente” – e não em teletrabalho – para poderem ficar, de acordo com um ultimato do patrão.

Um clima de “medo”

E isso não foi necessariamente suficiente: até a antiga directora Esther Crawford, que tinha dormido num saco-cama no escritório nos primeiros dias, foi despedida no final de fevereiro. Em julho, descreveu a forma como Elon Musk tinha criado um clima de “medo” na empresa, até então conhecida pelo seu ambiente familiar. O líder “audacioso”, mas “mal-humorado”, rodeia-se de “yes men” e baseia as suas decisões “essencialmente no instinto”, em vez de se basear em dados ou conhecimentos especializados, contou.

O bilionário defende uma abordagem radical da liberdade de expressão, que se traduziu na flexibilização das regras relativas à desinformação, na redução das equipas de moderação de conteúdos e no regresso de muitas personalidades controversas. Várias associações registaram um aumento da desinformação e do assédio.

O Blue Tick, que era gratuito mas reservado a contas autenticadas e conhecidas, tornou-se um serviço pago aberto a todos, tornando a plataforma menos legível.

O atual conflito entre Israel e o Hamacs ilustra bem o problema: várias contas falsas, que se apresentam como certificadas, semeiam a confusão, difundem imagens de conflitos passados, vendem conclusões precipitadas baseadas em vídeos não verificados, etc.

Utilizadores abandonam a aplicação

A 12 de outubro, a Comissão Europeia anunciou a abertura de um inquérito à rede social por alegada difusão de “informações falsas”, “conteúdos violentos e terroristas” e “discursos de ódio”, na sequência dos ataques do Hamas contra Israel. Linda Yaccarino, a nova diretora-geral, estimou recentemente o número atual de utilizadores em 225 milhões, menos 11% do que antes da aquisição.

A mudança de visão também colocou a empresa numa má situação financeira. O seu valor desceu para 20 mil milhões de dólares e as receitas publicitárias diminuíram para metade, segundo Elon Musk.

Uma nova assinatura, “Blue”, foi lançada de forma caótica. Os subscritores pagam entre 8 e 11 dólares por mês para verem menos publicidade e usufruírem de certos privilégios – ferramentas de edição, prioridade na publicação das suas mensagens, um tique azul, etc.

Pagar conforme o uso?

Na Nova Zelândia e nas Filipinas, os novos utilizadores já têm de pagar um dólar por ano para publicar mensagens. A ideia é desencorajar o registo de “bots”, contas automatizadas que podem ser utilizadas para amplificar artificialmente as mensagens políticas, por exemplo.

Para relançar a sua plataforma, Elon Musk encoraja o desenvolvimento de formatos áudio e vídeo e organiza ele próprio entrevistas com personalidades, sobretudo de direita. Ron DeSantis, candidato à nomeação republicana, conversou em direto com ele em maio, numa emissão marcada por grandes problemas técnicos.

No mês passado, foi a vez do primeiro-ministro israelita Benyamin Netanyahu elogiar as suas políticas numa troca de palavras muito amigável com o patrão da SpaceX. Os comentadores conservadores também aderiram à rede social, como Tucker Carlson, antigo apresentador da Fox News com opiniões radicais e por vezes conspiratórias. Depois de deixar o canal, lançou o seu novo programa no X.

Objetivo “Super-aplicação”

Em julho, o executivo caprichoso mudou o nome do Twitter para “X”, o símbolo matemático do desconhecido e o nome de um banco online que fundou em 1999 (atualmente PayPal). Elon Musk quer transformar a rede social numa super-aplicação, como o WeChat na China, que serve simultaneamente de serviço de mensagens e de pagamento.

Mas “a visão ambiciosa de Musk para o X está a ser travada pelo seu estilo de gestão e de comunicação”, comenta Jasmine Enberg, analista da Insider Intelligence. “Os utilizadores e os anunciantes perderam a confiança (…) e Linda Yaccarino não foi capaz de a restaurar”.

O bilionário celebrou o novo brasão com uma estrutura metálica em forma de X no telhado da sede, que teve de ser retirada passados alguns dias, na sequência de uma queixa da cidade de São Francisco.

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