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Internacional/África: Sidi Ould Tah eleito presidente do Banco Africano de Desenvolvimento com apoio árabe decisivo

O mauritano Sidi Ould Tah foi eleito presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) para um mandato de cinco anos, tornando-se o 9.º líder desta instituição continental.

Foram apenas necessários três turnos de votação para determinar o vencedor entre os cinco candidatos em disputa. Sidi Ould Tah obteve 76,18% dos votos, superando com larga vantagem o zambiano Samuel Maimbo (20,26%) e o senegalês Amadou Hott (3,55%). O chadiano Mahamat Abbas Tolli (0,88%) e a sul-africana Swazi Tshabalala (5,9%) foram os primeiros a ser eliminados.

No segundo turno, o mauritano já contava com o apoio de mais de dois terços dos acionistas africanos, demonstrando um forte impulso rumo à vitória. Em contraste, na eleição de 2015, Akinwumi Adesina só conseguiu assegurar a presidência após seis voltas, com 58,1% dos votos. “A eleição foi rápida e consensual”, afirmou Sandra Kassab, nova diretora para África da Agência Francesa de Desenvolvimento.

Último a entrar na corrida, Sidi Ould Tah tirou partido das redes diplomáticas do seu país, reforçadas pela presidência da União Africana, assumida por Mohamed Ould Ghazouani em 2024. Beneficiou ainda do apoio da Arábia Saudita, cujo peso diplomático influenciou os votos dos países da Liga Árabe.

A sua campanha foi bem-sucedida ao apresentar-se como um elo entre África e o mundo árabe. Nos últimos dez anos, liderou o Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico em África (BADEA), propriedade de 18 Estados membros da Liga Árabe. Sob a sua liderança, o banco atingiu o mais alto nível entre as instituições de financiamento do desenvolvimento.

“Multiplicámos por doze as aprovações anuais e por oito os desembolsos”, declarou Tah durante a campanha. “Os empréstimos não produtivos caíram de mais de 10% para menos de 0,5%. Hoje, a BADEA é uma das instituições financeiras de desenvolvimento com melhor classificação no mundo.” Coincidentemente, a 16 de Maio, a agência S&P elevou a notação do banco para AA+, um nível abaixo da classificação máxima AAA.

Visão integral para o desenvolvimento

Tah destacou também a sua experiência como ministro da Economia e Finanças da Mauritânia, o que lhe confere, segundo o próprio, “uma visão de 360° dos desafios do desenvolvimento” e garante que estará “pronto para agir desde o primeiro dia”. Apesar de só tomar posse oficialmente a 1 de Setembro, a sua equipa inicia a transição a partir de 29 de Maio.

Após dez anos à frente do BAD, Adesina deixa o cargo. Apesar de um legado misto, o nigeriano entrega uma instituição financeiramente sólida, que em 2024 apresentou um lucro líquido de 310 milhões de euros (351,7 milhões de dólares).

Novos desafios para um novo ciclo

No ano passado, o banco aprovou um volume recorde de 10,6 mil milhões de euros em novos projectos e desembolsou 6,4 mil milhões de euros, um crescimento de 15% face a 2023. No entanto, segundo Serge Ekué, presidente do Banco Oeste Africano de Desenvolvimento (BOAD), “o BAD faz menos do que o Banco Interamericano de Desenvolvimento, mesmo sendo de dimensão semelhante”. Para Ekué, o novo presidente terá de melhorar o uso do balanço da instituição e encontrar formas de captar mais capital próprio.

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O BAD mantém uma notação AAA, que lhe permite aceder com condições privilegiadas aos mercados de capitais. Sob a liderança de Adesina, o banco registou o maior aumento de capital da sua história, passando de 93 mil milhões de dólares em 2015 para 318 mil milhões atualmente.

Redefinir a estratégia decenal

Com um estilo discreto e atento, Tah contrasta com o perfil mais carismático do seu antecessor. Herdará a estratégia decenal 2024–2033, aprovada nas reuniões anuais realizadas em Nairobi. No centro desta estratégia estão as prioridades conhecidas como “High 5”: Alimentar África, Iluminar e Eletrificar África, Integrar África, Industrializar África e Melhorar a Qualidade de Vida dos Africanos.

Apesar disso, é provável que, à semelhança de Adesina há dez anos, o novo presidente reformule a estratégia de acordo com a sua visão. “Os ‘High 5’ refletem prioridades africanas”, afirmou o mauritano durante a campanha. “Iniciativas como a Missão 300 ou o programa Desert to Power, que visam a eletrificação do continente, são essenciais. Mas o BAD pode — e deve — fazer mais e melhor.”

Os Quatro Pontos Cardeais

A campanha de Tah foi construída em torno dos chamados “Quatro Pontos Cardeais”:

  • Reformar a arquitetura financeira de África;

  • Transformar o crescimento demográfico em força económica;

  • Industrializar o continente aproveitando os recursos naturais;

  • Mobilizar capital em grande escala.

Fim de uma era dominada pelo Ocidente

O último ponto pode ter sido determinante. “A era do desenvolvimento baseado na ajuda ocidental terminou. África precisa de ir onde está o capital”, afirmou Serge Ekué.

Sidi Ould Tah é o melhor colocado para convencer os membros do Grupo Árabe de Coordenação a apostarem em África. Eles têm centenas de mil milhões para investir — e ele conhece-os como ninguém”, concluiu.

Resta saber se o novo presidente conseguirá no BAD replicar o sucesso alcançado na BADEA.