Suspenso pela FIFA e sujeito a um processo judicial por ter beijado à força a jogadora Jennifer Hermoso após a final do Campeonato do Mundo, o responsável anunciou a sua demissão na noite de domingo, 10 de setembro. O dirigente renunciou igualmente ao cargo de vice-presidente da UEFA.

Foram três longas semanas. Luis Rubiales, o presidente suspenso da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), que provocou a indignação internacional por ter beijado à força a jogadora Jennifer Hermoso após a conquista do título mundial pela La Roja, anunciou a sua demissão na noite de domingo, 10 de setembro. “Sobre a minha demissão, sim, vou demitir-me, sim, porque não posso continuar o meu trabalho”, disse em inglês numa entrevista ao jornalista da televisão britânica Piers Morgan. Rubiales acrescentou que as pessoas mais próximas lhe tinham dito: “Luis, tens de cuidar da tua dignidade e seguir a tua vida. Caso contrário, vais magoar as pessoas que amas e o desporto que amas.

A Federação Espanhola de Futebol confirmou. “Ele informou a federação deste facto através de uma carta dirigida a Pedro Rocha Junco (presidente interino). Demitiu-se igualmente do seu cargo de vice-presidente da UEFA”, declarou a RFEF em comunicado. A RFEF vai agora iniciar o processo de nomeação do substituto de Rubiales.

A 20 de agosto, poucos minutos depois de a seleção feminina “Roja” ter conquistado o título mundial em Sydney, o dirigente espanhol de 46 anos beijou Jenni Hermoso na boca, provocando indignação em Espanha e em todo o mundo. Recusando-se a demitir-se por causa de “um pequeno beijo consensual”, atacou o suposto “falso feminismo” num discurso retumbante a 25 de agosto, afirmando que tinha obtido a autorização da jogadora antes de a beijar. Jenni Hermoso desmentiu esta afirmação e disse que “se sentia vulnerável e vítima […] de um ato impulsivo e sexista, inapropriado e sem o seu consentimento”.

“O que todos os cidadãos espanhóis lhe estavam a pedir”.

Na rede social X (Twitter), a ministra da Igualdade, Irene Montero, escreveu simplesmente “Se Acabo” (“Acabou”, em espanhol), utilizando um slogan que Jenni Hermoso e as suas companheiras de equipa na seleção nacional também tinham utilizado para expressar o seu protesto. “Yolanda Diaz, a segunda Vice-Primeira-Ministra do Governo espanhol, afirmou: “O país feminista está a avançar a um ritmo cada vez mais rápido. “A transformação e a melhoria das nossas vidas são inevitáveis. Estamos contigo, Jenni, e com todas as mulheres”, acrescentou no X.

“O antigo presidente da RFEF fez o que tinha de fazer e penso que era o que todos os espanhóis lhe pediam”, comentou o secretário de Estado do Desporto, Victor Francos, em declarações à rádio Cadena Ser.

Na sua carta de demissão, Rubiales afirmou que agiu com a preocupação de proteger o futebol espanhol, mas negou novamente ter agredido o internacional de 33 anos. “Depois da rápida suspensão da Fifa e do processo iniciado contra mim, é evidente que não poderei voltar ao meu cargo”, escreveu na carta. “Não quero que o futebol espanhol seja prejudicado por esta campanha desproporcionada” contra ele, acrescentou. “Confio na verdade e farei tudo o que estiver ao meu alcance para que ela prevaleça.

A caminho do fim da greve dos jogadores?

Suspenso pela Fifa por 90 dias, Rubiales também corre o risco de ser processado por “agressão sexual” pela justiça espanhola, com o Ministério Público pedindo que ele seja acusado na sexta-feira depois de receber uma queixa de Jennifer Hermoso. Desde uma recente reforma do Código Penal espanhol, um beijo não consentido pode ser considerado uma agressão sexual, uma categoria criminal que abrange todos os tipos de violência sexual. De acordo com uma porta-voz do Ministério Público, Luis Rubiales pode ser condenado a uma multa ou a uma pena de prisão até quatro anos.

O caso mergulhou o futebol espanhol no caos, a meio de uma candidatura ao Campeonato do Mundo de 2030, juntamente com Portugal e Marrocos, e ensombrou a conquista do título mundial pela seleção feminina. Criticado pelas jogadoras, o treinador Jorge Vilda, amigo íntimo de Rubiales, foi demitido pela federação na terça-feira e substituído pela sua antiga adjunta, Montse Tomé. Primeira mulher a dirigir a seleção nacional feminina, Montse Tomé terá de convencer rapidamente as 23 campeãs do mundo a pôr termo à greve, uma vez que os próximos jogos internacionais estão marcados para 22 e 26 de setembro.