Justiça/Caso dos arquivos: Trump declara-se inocente e denuncia um “abuso de poder”

Donald Trump compareceu no tribunal federal de Miami, na tarde de terça-feira, para uma comparência “histórica” no caso dos documentos confidenciais da Casa Branca. Sem surpresas, o antigo presidente declarou-se inocente, antes de voar para uma reunião em Nova Jersey, onde denunciou um “abuso de poder abominável” por parte de Joe Biden.

“Foi um dia histórico. Mais um”, resume El País. Pela primeira vez na história do país, um antigo Presidente dos Estados Unidos compareceu perante um tribunal federal, acusado de actos que podem levá-lo à prisão – “até 400 anos”, calcula o diário madrileno.

O antigo Presidente é acusado de ter saído da Casa Branca com caixas inteiras de documentos confidenciais – alguns deles classificados como segredos de defesa – e de ter mentido à justiça, que procurava recuperá-los.

Longe de se manter discreto, Donald Trump mostrou-se mais desafiante do que nunca, aproveitando a oportunidade para reunir as suas tropas e atacar frontalmente a sua bête noire, o Presidente Joe Biden.

“Hoje, assistimos ao mais hediondo abuso de poder na história do nosso país”, disse aos seus apoiantes, ao fim da tarde, a partir do seu campo de golfe em Bedminster, Nova Jérsia. “É muito triste ver um presidente corrupto mandar prender o seu adversário com base em acusações falsas e fabricadas”, acrescentou, citado pela CNN.

O discurso do bilionário – cuja “falta de energia” “impressionou” o jornalista do New York Times – foi o ponto alto de um dia sem precedentes, seguido minuto a minuto pelos media americanos e internacionais.

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“Uma carranca na cara”

No início da tarde, Donald Trump tinha chegado setenta minutos mais cedo ao tribunal federal de Miami para comparecer perante o juiz Jonathan Goodman. Detido à chegada, teve de fornecer as suas impressões digitais, mas evitou a tradicional fotografia – os agentes federais consideraram que ainda era facilmente reconhecível.

Na sala de audiências, Donald Trump ouviu em silêncio a leitura das 37 acusações e, “como era de esperar, o antigo Presidente declarou-se inocente” através do seu advogado, abrindo caminho a um julgamento, refere Le Temps.

“Durante a audiência, Trump sentou-se com as costas curvadas, os braços cruzados e o rosto carrancudo. Não falou”, diz a CNN. Ao fim de quarenta e cinco minutos, abandonou a sala de audiências, enquanto do lado de fora “as buzinas soavam para os aplausos da multidão”, segundo o Times.

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“O ambiente nas imediações do tribunal federal de Miami era animado pela manhã”, relata El País. “A cidade tinha-se preparado para o pior”, temendo uma afluência de “até 50 mil apoiantes”, mas, afinal, “meio milhar de apoiantes de Trump” tinha comparecido na manhã de terça-feira – o suficiente, no entanto, “para transformar a zona num verdadeiro circo”.

Munidos de megafones, telemóveis prontos a gravar tudo e vestidos com roupas extravagantes, os apoiantes [do antigo Presidente] procuraram os ouvidos dos jornalistas, logo pela manhã, para difundir as suas mensagens extremistas”, continua o diário madrileno. Parecia mais um carnaval do que um motim”.

“Espectáculo”

O Miami Herald refere que, depois de sair da sala de audiências, Donald Trump “foi ao Versailles”, um restaurante emblemático da comunidade cubana no bairro de Little Havana, para um “passeio”. Apertou a mão e rezou com os seus apoiantes, que cantaram os parabéns um dia antes. Fez também breves declarações sobre o declínio da nação, um dos seus temas favoritos”.

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Para o principal diário de Miami, o bilionário “tentou transformar o dia da sua aparição num dia de campanha, e conseguiu-o”. Seguindo o lema de que “não existe má publicidade, tentou fazer da sua aparição um espectáculo – ou, pelo menos, um instrumento para chegar aos eleitores”. Mas Trump queria sobretudo “desviar a atenção do enorme peso das acusações de que é alvo”, considera o jornal.

O Guardian também assinala a exploração mediática do dia por Trump e pela sua equipa de campanha e lamenta o facto de as câmaras terem sido proibidas de entrar na sala de audiências: “O antigo Presidente gozou de todos os benefícios das manchetes, sem as desvantagens da humilhação pública” de comparecer em tribunal, lamenta o diário britânico.

Os americanos não puderam ver nem ouvir o antigo Presidente – o primeiro a enfrentar uma acusação federal em 247 anos de história dos Estados Unidos – sentar-se no tribunal e levar com os golpes”, continua. Isso é importante, porque a sala de audiências é o único lugar onde Trump já não é o imperador todo-poderoso dos seus sonhos, mas uma figura humilde e vulnerável que, na véspera do seu 77º aniversário, contempla a perspectiva da prisão”.

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