Profissionais da saúde lançam pedido de Socorro ao MISAU

O Ministério da Saúde (MISAU) não dispõe de equipamentos suficientes para protecção dos seus profissionais contra a Covid-19, um facto que contribuiu para a contaminação de mais 1.500 profissionais de saúde, mesmo depois de ter recebido cerca de 100 milhões de dólares para prevenção e tratamento da Covid-19.

Do universo de profissionais contaminados, um total de 375 estão afectos ao Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária de Moçambique.

Este facto acontece um tempo depois de o executivo moçambicano ter recebido dos parceiros nacionais e internacionais 109 milhões de dólares, uma cifra acima do que era inicialmente prevista – 100 milhões de dólares.

Segundo o documento “Ponto de Situação dos Compromissos com os parceiros no âmbito da Covid-19: Posição de Outubro”, os 109.569.978 destinados para a prevenção e tratamento da Covid–19, foram todos canalizado ao MISAU.

Em conversa com o Observatório do Cidadão para Saúde (OCS), profissionais do HCM reclamaram a falta de material de trabalho, o que torna a sua actvidade mais arriscada.

Na maternidade daquela unidade hospitalar, o pessoal técnico tem estado a trabalhar com duas máscaras por semana e sem avental de protecção.

Num outro sector da mesma unidade hospitalar, os profissionais de saúde recebem um total de 12 pares de luvas diárias. Com este material são obrigados a trabalhar o dia todo, colocando em risco a sua vida e de outras milhares de pessoas.

O número ideal de pares de luvas deveria ser de pelo menos 50 por equipe que se encontra a trabalhar por dia. Este facto pode estar a contribuir para o contágio dos profissionais de saúde, assim como os seus familiares uma vez que o HCM não tem feito rastreio de alguns familiares dos profissionais de saúde.

“Eles não estão preocupados connosco”

Recentemente, Joana Alberto*, enfermeira no HCM, começou a sentir-se cansada. Doíam-lhe as articulações, e o corpo todo e, naturalmente, queria descansar.

“Mas era horário de trabalho e não tinha como descansar. Os dias são longos e há muitos pacientes por atender. Como poderia pensar em descansar?”, contou. Na altura, Joana não sabia o que estava a passar. Pensou que as dores estivessem relacionadas com as longas horas de trabalho e em nenhum momento relacionou-as com a Covid-19.

Como ela, outros colegas tiveram os mesmos sintomas. Comentavam sobre o cansaço e as dores que sentiam. No entanto, naquele contexto aqueles que pareciam mais fortes ajudavam os outros. “O que mais queremos é que este cenário passe logo ou que as pessoas sejam mais precavidas. Estamos aqui a sofrer e nem mesmo os subsídios são importantes. As nossas vidas estão em jogo. Trabalhamos 24 horas por dia e temos um ou dois dias em casa, mas não são suficientes. É pesado, pois são de facto 24 horas a trabalhar e sem parar.”

Às noites vieram a dificuldade na respiração. Nunca tinha antes sentido estes sintomas. “Um tempo depois fomos todos submetidos ao teste da Covid-19. Ligaram-me quando estava em casa a descansar para me informar que eu tinha testado positivo.”

“As pessoas não levam esta doença á sério”

Francisco, enfermeiro geral, não está na linha da frente do combate contra a Covid-19, mas foi no seu sector de trabalho onde testou positivo por duas vezes. Entre dores de cabeça intensas e cansaço, o enfermeiro teme pela vida de milhares de moçambicanos que não levam a doença à sério e apela para o seguimento das medidas de prevenção.

Apesar de não se recordar em que local do seu trabalho contraiu o vírus, ele tem a certeza que foi no HCM. “No meu local de trabalho, às vezes fico sozinho e foi apenas um dia que não usei máscara. Creio que tenham sido nesse dia. Um colega meu testara positivo e já tinha saído. Mas deve ter sido naquele momento”, recordou.

Ele acrescentou que um dos maiores problemas que enfrentou e que tem estado a enfrentar está relacionado com o estigma. “Sou enfermeiro e sou sensível. Quando soube que estava contaminado, pedi que as pessoas não se aproximassem de mim, pois estava eu contaminado. Mas as pessoas foram espalhando essa informação no bairro todo e me senti mal”, lamentou.

De acordo com os profissionais de saúde, o MISAU abandonou aqueles profissionais que não estão na linha da frente, não lhes providenciando material de protecção. Entretanto, estes são aqueles que em muitos casos diagnosticam e identificam os pacientes com sintomas da Covid-19, instruindo os mesmo a fazerem testes da Covid-19.

*Joana é nome fictício. A fonte, uma mulher, pediu anonimato.

(Observatório do Cidadão Para a Saude)

Cartamz.com

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