Brasil: Cimeira pode ser última oportunidade para salvar a Amazónia

Nesta terça-feira e ainda no dia 9 de Agosto decorre em Belém, no norte do Brasil, uma cimeira regional para fazer emergir consensos sobre a necessidade de salvaguardar a floresta amazónica face ao risco climático mundial provocado pela desflorestação daquela que é a maior floresta tropical e um dos pulmões do planeta.

Neste encontro que reúne pela primeira vez desde 2009 os oito países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazónica, entidade criada em 1995 para proteger esse espaço que têm em comum, participa nomeadamente a França, cujo território da Guiana abrange uma parte da floresta amazónica.

Para o Brasil, país que possui mais de 60% da área total da Amazónia, trata-se de preparar a COP30 que vai organizar em 2025 e trata-se também de cumprir uma das grandes promessas de campanha do Presidente Lula, a de acabar com a desflorestação até 2030. Neste sentido, durante esta cimeira, ele pretende angariar financiamentos e tornar a protecção da Amazónia um objectivo global.

O Observatório do Clima, uma coligação de organizações ambientalistas do Brasil, faz parte das entidades que têm tecido alertas sobre o risco de “colapso”. Márcio Astrini, Secretário executivo desta plataforma refere que “em alguns locais da Amazónia brasileira esse ponto de colapso já é bastante perceptível. Temos regiões em que isto já está acontecendo”.

Para este activista, “o combate ao desmatamento torna-se ainda mais importante e essa cimeira tem uma maior responsabilidade dada toda esta situação. Nós estamos vendo o que está acontecendo no planeta, recordes e recordes de aumento de temperatura.”

Ao destacar a importância da Amazónia como “instrumento central para a gente tentar manter o equilíbrio climático no mundo em que a gente vive”, o militante ambientalista considera que “se a gente perder a Amazónia, se ela entrar nesse ponto de colapso, infelizmente, toda essa crise climática vai piorar ainda mais”, sendo que na sua óptica, já se “está muito próximo de atingir o percentual de desmatamento que pode levar a floresta à sua destruição”.

Um combate desigual

A nível interno, o combate ao desmatamento ilegal tropeça contra os interesses dos poderosos sectores do agro-negócio e da mineração, isto apesar nomeadamente de um activismo muito forte dos cerca de 400 povos indígenas ligados a esse território.

Márcio Astrini refere que existem pistas para os interesses de uns e outros terem resposta. “Nós temos uma solução para essa situação de você continuar tendo a produção de comida e preservar a floresta ao mesmo tempo. Nós já temos áreas desmatadas em quantidade suficiente para duplicar a produção de alimentos no Brasil, sem precisar desmatar mais nenhum palmo de floresta”, sublinha o activista.

“Existe a oportunidade de preservar e de se produzir, mas o que a gente vê é que muitas vezes são fazendas que desmatam floresta para conseguirem mais terra. O desmatamento, quase na sua totalidade, é ilegal. Hoje mais de 90% do desmatamento da amazónia no Brasil acontece de forma ilegal e este novo governo tem actuado para reprimir esses crimes. Tem diminuído na Amazónia cerca de 7,4% nesse último período. É um ritmo ainda pequeno. Precisamos de muito mais trabalho e diminuir muito mais o desmatamento, mas é um começo”, refere Márcio Astrini para quem “o governo também precisa promover a possibilidade de recuperar as áreas desmatadas”.

Nem todos têm a mesma visão da protecção da Amazónia

A nível internacional, nem todos os países amazónicos partilham a mesma visão sobre a protecção da floresta. A Colômbia, por exemplo, chegou a propor que se acabe com a exploração ilegal de minérios nessa zona até 2030 e que novos projectos de exploração de petróleo na região não sejam levados adiante. Um passo que nem todos estão dispostos a dar.

No Equador, país membro da Organização do Tratado de Cooperação Amazónica, vai ser organizado por ocasião das eleições gerais do próximo dia 20 de Agosto, um referendo sobre a continuação da exploração de petróleo na sua parte da Amazónia.

No Brasil, um projecto de exploração de petróleo na sua parte da floresta, recentemente chumbado pelas autoridades, tem estado no centro de todas as controvérsias, muito embora o próprio Lula garanta que vai respeitar as decisões emitidas pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Daí que para Márcio Astrini, a cimeira da Amazónia “vai ser uma prova para o Lula, vai ser um momento em que ele vai provar o quanto realmente ele e o seu governo estão empenhados em salvar a floresta”.

Relativamente à participação da França nesta cimeira, o activista também considera que este país tem um papel a desempenhar. “A França tem assumido um papel muito grande em comentar sobre o desmatamento brasileiro. A gente viu isso nos últimos anos de governo Bolsonaro em que o próprio Presidente francês, por muitas vezes, criticou publicamente -e criticou de forma correcta- o Presidente brasileiro porque este último promovia o desmatamento de forma activa (…) então, a gente espera que a França contribua para esse tipo de acordo”, conclui o activista brasileiro.

leave a reply