Acordo entre Washington e Teerão: troca de prisioneiros e transferência de 6 mil milhões de dólares

Na segunda-feira, 18 de setembro, os diplomatas iranianos anunciaram a transferência de 6 mil milhões de dólares de activos bloqueados pelos Estados Unidos para uma conta no Qatar.

Um passo para acalmar as relações entre Washington e Teerão. Dois dos cinco prisioneiros iranianos libertados pelos Estados Unidos chegaram a Doha, no Qatar, para regressar ao Irão, anunciaram os meios de comunicação social iranianos na segunda-feira, 18 de setembro. Os outros três prisioneiros também foram libertados, segundo a agência, mas não desejam regressar ao seu país de origem.

Um alto funcionário da Casa Branca confirmou que cinco americanos que estavam presos no Irão, juntamente com duas mulheres da família, deixaram o país. “Um avião do Qatar descolou com os cinco prisioneiros e dois membros das suas famílias a bordo, acompanhados pelo embaixador do Qatar” no Irão, disse uma fonte próxima do assunto, sob condição de anonimato, confirmando que o acordo tinha sido alcançado após diligências discretas.

Cinco cidadãos iranianos, perseguidos ou condenados nos Estados Unidos por delitos não violentos, beneficiarão de medidas de clemência, disse o alto funcionário, acrescentando que esta troca de prisioneiros, politicamente arriscada para o Presidente Joe Biden, será acompanhada de sanções contra o Ministério dos Serviços Secretos iraniano e o antigo Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Esta é a forma de a Casa Branca contrariar quaisquer acusações de complacência para com o regime de Teerão.

No início do dia, fundos iranianos congelados no valor de 6 mil milhões de dólares (mais de 5 mil milhões de euros) foram transferidos para uma conta bancária no Qatar. “Os iranianos e os americanos foram notificados da transferência da Suíça para contas bancárias no Qatar da totalidade dos seis mil milhões de dólares”, disse uma fonte do Qatar. A transferência destes fundos foi confirmada por Teerão, mas não por Washington. “Recebemos ontem uma carta oficial do Qatar indicando que as contas de seis bancos iranianos tinham sido activadas”, declarou o governador do Banco Central iraniano à televisão estatal.

Aos olhos de alguns especialistas, este acordo, alcançado após negociações muito discretas, reflecte um abrandamento das tensões entre o Irão e os Estados Unidos, que não têm um acordo diplomático desde 1979. No entanto, não antecipa um eventual acordo sobre a questão nuclear iraniana. Nos últimos anos, as difíceis negociações sobre o acordo nuclear iraniano de 2015 – moribundo desde a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018 sob a presidência de Donald Trump – reacenderam as tensões em relação a Teerão.

“Vigilância rigorosa”

A 13 de setembro, a Casa Branca rejeitou qualquer noção de “resgate”, como denunciado pela oposição republicana ao Presidente Joe Biden, com a libertação dos seis mil milhões de dólares em fundos iranianos congelados. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, insistiu que não se tratava de um “cheque em branco” oferecido ao Irão e que a utilização destes fundos “apenas para fins humanitários” seria “rigorosamente controlada”. Estes fundos, provenientes da venda de hidrocarbonetos pelo Irão, tinham sido bloqueados na sequência das sanções americanas. Teerão, por seu lado, garantiu que poderá utilizar os fundos de outras formas, e não apenas para comprar medicamentos e alimentos.

Após este pagamento, o Irão “deixará de ter muitos recursos bloqueados noutros países”, disse o porta-voz diplomático Nasser Kanani na segunda-feira. “No Japão, tínhamos uma certa quantia, mas utilizámos uma grande parte e a quantia restante não é significativa”, afirmou.

O Presidente iraniano, Ebrahim Raissi, deverá participar na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, na segunda-feira.

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